terça-feira, 31 de agosto de 2010

Um ato de violência

Uma palavra ofensiva seguida de risos e coações. Assim começa o Bullying, termo inglês que define ato de violência, intencional e repetitivo, tão perigoso quanto a agressão física.

Geralmente são praticados em grupo, mas podem vir individualmente (bully – valentão), e o objetivo é intimidar, agredir um outro indivíduo. Ou ainda, grupos de indivíduos que supostamente sejam incapazes de se defender.

Há também as chamadas vítimas/agressoras, ou autores/alvos, que em determinado momento acabam encontrando na agressão uma forma de reação às humilhações sofridas pela turma.

O bullying divide-se em duas categorias. O direto, cuja forma é mais comum entre os agressores bullies do sexo masculino. E o bullying indireto, ou agressão social, forma mais comum em bullies do sexo feminino e crianças pequenas.

Casos de agressão social são caracterizados por forçar a vítima ao isolamento social, e este isolamento é obtido através de técnicas como comentários maldosos, recusa em se socializar com a vítima, intimidar outras pessoas que desejam se socializar com a vítima e ainda criticar o modo de vestir ou outros aspectos socialmente significativos (incluindo sua etnia, religião e limitações).




O bullying ocorre em lugares de maior sociabilidade, como escolas, faculdades, local de trabalho e bairros residenciais. Em qualquer que seja a situação, a estrutura de poder é tipicamente evidente entre o agressor (bully) e a vítima. E geralmente a vítima tem motivos para temer o agressor, devido às ameaças sofridas ou concretizações de violência física e até sexual.

Os atos de bullying configuram como ilícitos porque desrespeitam princípios constitucionais. A responsabilidade pela prática desse tipo de violência pode se enquadrar tanto no Código Civil - que determina todo ato ilícito, causador de dano a outro, à indenização - quanto no Código de Defesa do Consumidor, já que as escolas prestam serviço aos consumidores.

Muitas vítimas têm movido ações judiciais contra seus agressores por "imposição intencional de sofrimento emocional" e incluindo as escolas como acusadas, sob o princípio da responsabilidade conjunta.

Em maio deste ano a justiça obrigou os pais de um aluno do Colégio Santa Doroteia, em Belo Horizonte, a pagar uma indenização de R$ 8 mil. A vítima, uma garota de 15 anos, sofreu bullying ao ser incluída no G.E. - sigla para integrantes de grupo de excluídos-, devido a sua aparência.

As insinuações se tornaram frequentes com o passar do tempo, e entre elas, ficaram as alcunhas de tábua, prostituta, sem peito e sem bunda. Os pais da menina garantiram que procuraram a escola, mas não conseguiram um retorno.

De acordo com uma psicóloga, que depôs no caso, a vítima se tornou uma pessoa triste, estressada e emocionalmente debilitada. Já o colégio, de classe média alta, não foi responsabilizado.

Já um caso ocorrido no pátio de uma escola dos Estados Unidos envolveu um aluno da oitava série, teve um desfecho diferente. Curtis Taylor estudava em uma escola secundária, em Iowa. O rapaz foi vítima de bullying contínuo por três anos, o que incluía espancamento e vandalismo de pertences. O fato levou a vítima ao suicídio, em março de 93. Alguns especialistas em bullies denominaram a reação do aluno como "bullycídio".

Os que sofrem o bullying podem desenvolver problemas psíquicos muitas vezes irreversíveis. Um outro exemplo disso foi o ocorrido com Jeremy Wade Delle, rapaz que se matou em janeiro de 1991, aos 15 anos, dentro de uma escola na cidade de Dallas - no Texas.

O incidente ocorreu dentro da sala de aula, na frente de 30 alunos e da professora de inglês, e foi apontado como protesto pelos atos de perseguição que o adolescente sofria constantemente. Esta história inspirou a música “Jeremy”, interpretada por Eddie Vedder, vocalista da banda Pearl Jam.

Segundo pesquisas, adolescentes agressores têm personalidades autoritárias somadas a uma forte necessidade de controlar ou dominar terceiros. E mais, comportamentos agressivos costumam ter origem na infância. Ou seja, estudos comprovam que a prática do bullying põe a criança em risco de comportamento criminoso e violência doméstica na idade adulta.

Nos anos 1990 os EUA viveram uma epidemia de tiroteios em escolas, dos quais o mais notório foi o Massacre de Columbine. Muitas das crianças por trás destes tiroteios afirmaram serem vítimas de bullies, e que recorreram à violência somente depois que a administração escolar havia falhado em suas intervenções.

Em muitos destes casos, as vítimas dos atiradores processaram tanto as famílias dos atiradores quanto as escolas. Por conta disso, colégios de diversos países começaram a desencorajar a prática do bullying, através de campanhas e programas que promovem a cooperação entre os estudantes, assim como treinamento de alunos moderadores.




Uma pesquisa realizada este ano, aqui no Brasil, com 5.168 alunos de 25 escolas públicas e particulares revelou que as humilhações típicas do bullying são comuns entre alunos da 5ª a 6ª séries.

17% dos entrevistados afirmaram estarem envolvidos com o problema, seja no papel de vítima, seja no de agressor e/ou dos dois lados. A forma mais comum por aqui é a cibernética, que surge a partir do envio de e-mails ofensivos ou difamações em sites de relacionamento, como o orkut.

No ano passado, uma pesquisa realizada pelo IBGE apontou as cidades de Brasília (35,6%) e Belo Horizonte (35,3%) como as capitais brasileiras com maiores índices de bullying. Já entre os casos destacados, em São Paulo uma menina apanhou até desmaiar por colegas que a perseguiam. Enquanto que em Porto Alegre, um jovem foi morto com arma de fogo.

Técnicas de bullying

Os bullies usam uma combinação de intimidações e humilhações para atormentar suas vítimas. Entre as técnicas utilizadas pelos bullies, estão: insulto, ataques físicos repetidos contra a pessoa ou sua propriedade, tomar posse ou destruir pertences, espalhar boatos negativos, depreciar a imagem da vítima, coação, ameaças, comentários depreciativos sobre a família da vítima, local de moradia, aparência física, orientação sexual, religião, etnia, nível de renda, nacionalidade ou qualquer outra inferioridade depreendida da qual o bully tomou ciência, cyberbullying - criar páginas falsas sobre a vítima em sites de relacionamento –, chantagem e grafitagem.

O bullying em seus diversos ambientes

- Em escolas, o bullying geralmente ocorre em áreas com supervisão adulta mínima ou inexistente.

- O bullying em locais de trabalho, algumas vezes chamado de "Bullying Adulto", é descrito pelo Congresso Sindical do Reino Unido como um problema sério, apesar das pessoas acharem que seja um problema ocasional entre indivíduos. É uma intimidação regular e persistente.

- Entre vizinhos geralmente toma a forma de intimidação por comportamento inconveniente, como barulho excessivo que perturbam o sono e os padrões de vida normais. Esta forma de comportamento faz com que a vítima fique tão desconfortável que acaba se mudando.

- O bullying entre países ocorre quando um país impõe sua vontade a outro. Costuma ser feito por uso da força militar e as ameaças consistem em doações não entregues a um país menor ou ainda, a não permissão de um país se associar a uma organização de comércio.

- Em 2000 o Ministério da Defesa (MOD) do Reino Unido definiu o bullying militar como uso de força física ou abuso de autoridade para intimidar ou vitimizar outros. Ou ainda, infligir castigos ilícitos. Em alguns países rituais humilhantes entre os recrutas têm sido tolerados e mesmo exaltados como um "rito de passagem". Enquanto que em outros, jovens ou recrutas mais fracos podem ser encorajados pela política militar. Já as forças armadas russas fazem com que candidatos mais velhos, ou mais experientes, abusem, através de socos e pontapés, de soldados mais fracos e menos experientes.

Alguns famosos que sofreram bullying

Madonna - "Eu não era hippie ou fã dos Rolling Stones, então me tornei esquisita. Se você fosse diferente, os alunos eram bem perversos. As pessoas faziam questão de serem maldosas comigo", disse a diva à revista Vanity Fair em 2008. Mas quanto mais represálias às suas diferenças, mais Madonna reagia. Não depilava pernas e axilas, recusava-se a usar maquiagem ou se encaixar no modelo de garota convencional.

Steven Spielberg - O diretor de cinema mudou-se várias vezes de cidade em função do trabalho do pai. Sempre solitário, desengonçado e excluído, com sua câmera super-8 nas mãos, fazendo filmes caseiros das irmãs, Spielberg sofreu vários ataques antissemitas dos vizinhos e colegas de escola. Chegou a apanhar diariamente no recreio e ouvia as crianças berrando "Spielbergs, os judeus sujos".

Michael Phelps - O nadador que nas Olimpíadas de Pequim conquistou oito medalhas de ouro e bateu sete recordes mundiais, sofria déficit de atenção. Uma professora chegou a dizer que ele seria um fracassado. Sofreu bullying anos seguidos., Além do transtorno, era muito alto, magro, desengonçado e tinha orelhas grandes. Uma vez, seu boné foi jogado para fora do ônibus. Em outra, sua cabeça quase foi mergulhada na privada.

Kate Winslet - A estrela, indicada seis vezes ao Oscar antes de levar a estatueta para casa por seu papel em "O leitor", recebeu das crianças da escola o apelido de gorducha: "Outras meninas me provocavam terrivelmente. Eu simplesmente abaixava minha cabeça e aceitava isso. Era o meu jeito de sobreviver", disse à Parade Magazine. "Sofri bullying por ser gordinha. Onde estão elas agora?"

David Beckham - Um dos maiores jogadores de futebol do mundo sofreu bullying ironicamente por ser apaixonado pelo esporte. Quando adolescente, era um estranho no ninho. Enquanto seus colegas pensavam em diversão, ele focava no futebol. Recusava noitadas e bebidas e os agressores diziam que isso era coisa de "mulherzinha". Beckham está na campanha Beat Bullying. “O bullying é algo que todos nós temos responsabilidade de erradicar".



Fonte - depoimentos: Jornal O Globo

Por Tatiana Bruzzi

Publicado em Agosto de 2010

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