sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A sedutora Senhora TV

Quando a primeira transmissão de televisão chegou ao Brasil, em 1950, entretenimento era chamado de passatempo. Consistia basicamente em bater papo com o vizinho no portão, frequentar as domingueiras no clube do bairro, ir às quermesses da igreja, encontrar com a turma na pracinha, na praia ou no cinema. Enfim, fazer da rua extensão da casa. Com o advento da televisão, novos paradigmas de convivência social surgiram e modificaram os hábitos dos brasileiros por completo.

Naquela época, ter um aparelho de televisão era privilégio de poucos. Na minha casa, por exemplo, o eletrodoméstico só começou a fazer parte do nosso dia a dia em meados dos anos 1960. Antes, havia sempre um vizinho ou parente que nos convidava a compartilhar daquele momento mágico: olhar para um armário que embutia uma telinha, de onde as pessoas falavam ao vivo como se estivessem nos vendo também. Para a geração que nasceu ouvindo o rádio, a inovação era literalmente fantástica.




A magia da telinha começava a se impor de tal forma, que as personagens das histórias habitavam nossa casa como velhos conhecidos. Desse modo, antes de às duas da tarde de domingo, a garotada se juntava na casa de quem tivesse TV para assistir ao Vesperal Trol (Emissora: TV Tupi. Ano de Produção: de 1956 a 1966). Este teatrinho transportava os telespectadores mirins para o mundo da fantasia. Lá moravam fadas, príncipes e bruxas, florestas escuras e perigosas. Era a televisão realizando o imaginário infantil.


Assim, com olhos fixados na TV e silêncio total na sala, a criançada queria ver se o charmoso príncipe (Roberto de Cleto) salvaria a bela princesinha (Norma Blum) das poções poderosas da bruxa (Zilka Salaberry). Fascinados pelos contos de fada, que só conheciam em livros, os pequenos trocaram o pique-pega da rua pelo teatrinho da Tupi. Era o poder do meio modificando as relações sociais.

Entretanto, a inércia do povo diante da TV foi atenuada justamente porque aparelho no início era muito caro. Por conta disso o público, acostumado com o rádio, começou a frequentar os programas de auditório das emissoras de televisão para ver seus ídolos de perto. Além de o modelo da programação ser o mesmo, os artistas, atores, humoristas, cantores e locutores também migraram do rádio para a televisão. Desse modo, o público lotava os auditórios das emissoras, mais do que ficavam em casa assistindo pela TV.

Muitos programas de auditório daquele tempo deixaram saudade. Na TV Rio, aos sábados, tinha Hoje é Dia de Rock, com Jair de Taumaturgo (Emissora: TV Rio. Ano de Produção: de 1961 a 1965). Mas, antes desse programa destinado a jovens começar, era a vez da criançada talentosa se revelar como artista em Grande Gincana Kibon (Emissora: TV Record. Ano de Produção: de 1955 a 1971). Neste, eu tive a oportunidade de conhecer como funcionavam os bastidores de uma emissora de TV da década de 60.

Na verdade, eu fui à TV Rio só para prestigiar a minha irmã que tocaria acordeão. Entretanto, a minha curiosidade me fez conhecer muito além do auditório. Primeiramente não fiquei no auditório, mas lá atrás do palco, junto com câmeras, cenógrafos e artistas do rock, que esperavam o programa deles começar.


Conversei com o pessoal da Jovem-Guarda e até palpite no cenário eu arrisquei. Eu tinha só 12 anos, mas achei muito mais interessante ver o câmera-man girar aquela máquina pesada a fim de pegar melhor ângulo; trocar ideia com o coreógrafo e sugerir que ele riscasse mais fortemente o papel de parede, para que os círculos pretos ficassem mais nítidos na tela - pior é que ele acatou a minha sugestão -.



Gosto de contar essa minha experiência para ilustrar e valorizar as dificuldades que os profissionais de televisão tinham na hora de colocar um programa no ar, no tempo em que não havia videotape, muito menos tecnologias digitais. Com os recursos que se tem agora, parece impossível aos mais jovens que a geração de seus pais e avós tenha visto um desenho animado ou um seriado em preto e branco. Mas posso garantir que tudo é uma questão de hábito.

Por Maria Oliveira

Pubicado em Setembro de 2010

1 comentários:

Anônimo disse...

Olá!

Tenho uma proposta para seu blog que acredito ser relevante para você.

Caso haja interesse, entre em contato!


Atenciosamente,
Cristiano
contato@webreside.net

6 de outubro de 2010 às 06:59
 

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