segunda-feira, 5 de julho de 2010

Na sede da Copa, um cenário indigno

É, acabou o propalado sonho do “hexa”. Todo mundo tá muito chateado, com a perda de publicidade e outros afins. Ahn, alguém acredita mesmo que é só o fato de decepcionar criancinhas que chateiam Kaká muso da Silva e Cia? Se você acreditou, leitor, pode esperar no Natal, que o bom velhinho vai te dar um presente na meia.

Mas um detalhe não passa batido em minha cabeça e nem deveria passar na de ninguém. A África ainda é um continente de contrastes e a África do Sul continua tendo suas mazelas varridas para debaixo do tapete Ou seriam gramados?

Ainda existe muita miséria no país que tem mostrado sedes majestosas como palco para os jogos. Estádios suntuosos contrastam com um país de analfabetos, aidéticos e famélicos. E um detalhe constrangedor faz afastar ainda mais a simpatia pelo país sede da Copa, a incidência de estupros por dia chega a 20, 25 casos relatados.

Além de no passado ter sido explorado à exaustão por diversas nações européias - sem contar com a cruel chaga denominada escravidão, que levou seus antepassados para terras distantes e assombrou por séculos o continente inteiro - uma boa parte dos países africanos não teve desenvolvimento educacional.

Não foi agraciado com sistemas de saúde, que pudessem amparar suas (inúmeras) doenças pré-existentes e ainda, aquelas trazidas pelos exploradores. Além disso, foi cenário de disputas mais contemporâneas por espaços estrategicamente localizados que pudessem abrigar supostas barreiras bélicas em um conflito que nunca foi seu.

Com isto, determinados hábitos violentos e indignos se estabeleceram e maculam países como a África do Sul. Como o sofrimento devido a constante onda de estupros, que disseminam doenças terríveis como a AIDS, entre outras DST de difícil trato.

Na África do Sul, só para exemplificar, existe a crença de que se um homem aidético estuprar uma mulher virgem ele será curado. Há ainda a mítica abominadora que inclui idosas e crianças como “purificação” para determinadas doenças, além da AIDS. E existe o dito “estupro corretivo”, pois em um país de vítimas que cresce sem querer contato algum com homens, a África do Sul apresenta um elevado índice de população lésbica que acaba sendo novamente molestada para ver se é “corrigido” este tipo de “desvio de conduta”.

Inclusive houve o comentado lançamento da camisinha com dentes, lançada na Copa, para agredir ao agressor-estuprador. Mas me pego imaginando, será que a mulher realmente terá vantagem neste tipo de proteção? E se o agressor, se sentido ferido e genuinamente “mordido” de raiva, resolve revidar de modo muito mais violento? Estamos tratando com uma população ignorante e vilipendiada, descrente de sentimentos básicos como caridade e ajuda humanitária. Sinceramente, não apoiaria esta campanha.

Apoiaria sim, se cada jogador famoso de futebol, antes das partidas nesta Copa, falasse abertamente nos telões como repudia tal ato, como é indigno do ser humano tal atitude. Talvez ajudasse mais se cada seleção, mesmo desclassificada, doasse 1% por cento do que está ganhando em direitos de imagem e publicidade e exigisse o investimento em saúde, educação, pesquisa médica e medicação para o povo doente.

Se cada nação daquele continente, e em especial daquele país, no passado usurpou recursos e pessoas de seus lugares de origem, deixando pavorosas marcas naquelas pessoas. Marcas indeléveis que vão sendo passadas de geração a geração, fizesse um mea culpa e apenas ajudasse a tentar colar o que restou - claro que o Cristiano “gracinha” Ronaldo não pode pagar pelos pecados de seus tatatatatavós. Mas que seria bem mais bonito ele doar algo em nome do que seus patrícios um dia afanaram, ah, isto seria - talvez o mundo de chuteiras, que tanto gostamos de apreciar pelas TVs de LCD e plasma, que tanto nos motiva a ficar mais um dia em casa pelo espírito desportivo, pudesse ser um pouco melhor.

E menos hipócrita, irresponsável e mais solidário.

Por Fernanda Barbosa

Publicado em Julho de 2010

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