terça-feira, 11 de maio de 2010

Esquizofrenia

Há como conviver com ela?


A esquizofrenia virou o assunto da moda depois que o ator Bruno Gagliasso, um galã, interpretou um pobre rapaz rico esquizofrênico na novela Caminho das índias, e sua interpretação, bem como a de todos que o cercavam na vida fictícia, alertou para os males que são acarretados quando as pessoas simplesmente se recusam a ver, ou mesmo entender, o que é lidar com esta que se tornou uma das doenças mais diagnosticadas entre os males de origem psiquiátrica, perdendo apenas para o psicótico e o depressivo.

Particularmente, por ter parentes de consanguinidade direta de ambos os lados da família com o diagnóstico da esquizofrenia, e por acompanhar meus familiares que, não sabendo como reagir a um dos casos - um tio, irmão de minha mãe, passou 40 anos interno da Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, RJ, pois na década de 60 tentou matar um dos irmãos por julgar que este o perseguia nas ruas e o vigiava - simplesmente se conformou em ver o parente definhar e cada vez se afastar da realidade, dado ao tratamento pouco criterioso e cauteloso em instituições de saúde mental.

Apesar de não possuir (ainda) a informação precisa de como surge este mal, as evidências indicam cada vez mais que a esquizofrenia é um severo transtorno do funcionamento cerebral.

A Dra Nancy Andreasen afirma que "As atuais evidências relativas às causas da esquizofrenia são um mosaico: a única coisa clara é a constituição multifatorial da esquizofrenia. Isso inclui mudanças na química cerebral, fatores genéticos e mesmo alterações estruturais. A origem viral e traumas encefálicos não estão descartados. A esquizofrenia é provavelmente um grupo de doenças relacionadas, algumas causadas por um fator, outras, por outros fatores" - Depoimento extraído do www.psicosite.com.br/tra/psi/esquizofrenia.htm.

O que sabemos, na prática e na realidade, é que o esquizofrênico se isola duas vezes do mundo em que vive. Na primeira, quando se auto - isola por temer perseguições, não entender o mundo que o cerca, sofrer delírios que o levam à um comportamento violento e por sofrer ao ver coisas e pessoas imaginárias.

Na segunda vez a família, os amigos, os colegas de trabalho – se ele já está no mercado de trabalho, pois a esquizofrenia inicia na juventude e geralmente é diagnosticada precocemente, o que leva a um afastamento total de quase tudo – e todos aqueles que não veem, sentem com os olhos e nem com o aguçado sentido dos doentes, é que acabam por se afastar e isolá-lo do convívio social, ao invés de tentar inseri-lo e/ou insistir em um tratamento.




Aliás, o tratamento não é totalmente obrigatório. Há uma ética médica que afirma só poder ministrá-lo a quem o deseja, seja medicamentoso ou com auxílio de psicólogos e equipes multifuncionais (que soa compostas, na maioria, por especialistas interessados em apresentar a arte, a música, entre outras atividades, como forma de adaptação ao paciente). Ou seja, famílias de esquizofrênicos, de posse de um diagnóstico, mas sem saber com exatidão como proceder, raramente tratam os seus membros que, ou morrem bem cedo em decorrência de suicídio, de excesso de medicações controladas (o chamado “sossega-leão), entre outros fatores de descuido, ou simplesmente o tratam como aquele parente doente e difícil, que vive isolado, trancado, e sedado pelo resto da vida (caso de minha família).


Um dos filmes mais bem referendados de Hollywood em 2001 já havia, inclusive, abordado a ótica esquizofrênica - Russel Crowe em Uma Mente Brilhante (foto ao lado) -. Nessa época o mundo conheceu o matemático John Nash, brilhante ganhador de um Nobel de Economia em meados da década de 70, que mostrou aos espectadores mundiais as agruras de ser diagnosticado com uma doença que você sinceramente não acredita nem sabe exatamente que existe.

A esquizofrenia não é doença incapacitante ou que exclua para sempre os indivíduos do mundo. Ambas as referências citadas do meio artístico logo acima querem justamente provar isto. Com tratamento adequado, acompanhamento correto, e, principalmente, muita, mas muita perseverança de todos os que cercam o paciente esquizofrênico, este torna-se perfeitamente incluído na sociedade, capaz de trabalhar, constituir família e levar sua vida adiante.

É óbvio que, falando desta forma, aparenta ser muito tranqüilo o convívio com o esquizofrênico. Não é. É desgastante, triste e desolador. Na maior parte do tempo, é angustiante você ver aquela pessoa querida tão envolvida em paranoias e intrincadas histórias de mundos paralelos... mas não é motivo para que se excluam tais pessoas de nossas vidas.


Bruce Willis e Brad Pitt no filme Os 12 Macacos

Até porque elas se tornam extremamente dependentes de alguém ou alguéns que as salvem delas próprias. Os delírios, em sua maioria, são auditivos e/ou visuais, oscilações de humor são extremamente violentas (ora o indivíduo está catatônico, ora agitado a ponto de poder ter um infarto).

Os sintomas cognitivos são: falta de atenção, falta de habilidades de memória e incapacidade de planejar ou organizar ações. E se você perceber que alguém próximo á você anda muito ausente, ou dado a delírios, irritadiço sem motivos, ajude-o e sugira uma visita a um médico especializado. A esquizofrenia só mata se nós matarmos socialmente antes nossos parentes ou amigos.

Por Fernanda Barbosa
 
Publicado em Maio de 2010

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