quarta-feira, 2 de março de 2011

O carnaval do bate-bola

A fantasia predispõe o folião a brincar o carnaval com mais liberdade. Por trás de uma máscara preserva-se a identidade e afasta-se o medo de transgredir. O medo, entretanto, fica do lado de fora, na cara de quem vê um mascarado na rua. Correr de um clóvis é uma experiência pela qual já passou todo suburbano que se preza.

Clóvis ou bate-bola é o nome de uma fantasia carnavalesca característica dos subúrbios cariocas, principalmente os das Zonas Norte e Oeste. O nome é uma derivação da palavra “clown”, que significa palhaço em alemão.

A fantasia se assemelha muito com a roupa de palhaço porque é bem colorida e farta em babados, cujo efeito belíssimo se mostra na coreografia do grupo. Além de uma sombrinha, trazem na mão uma bexiga de boi ou de plástico para fazer barulho, fora chocalhos e apitos que aterrorizam a criançada e marmanjos também.



Muito comuns, principalmente nos subúrbios de Marechal Hermes e Bento Ribeiro, os blocos de bate-bolas são temidos porque se aproveitam do carnaval para resolver antigas rixas entre gangues do lugar.

Por conta disso, há sempre confronto e violência quando grupos rivais se encontram. A provocação vai desde a sofisticação da indumentária e apetrechos de mão, até a composição de hinos de funk cantados em carros de som.

Felizmente, o espírito carnavalesco está superando o da violência gratuita entre os blocos. De tanta repressão policial, os competidores voltaram a pensar mais na brincadeira em si.



Prova disso é que cada vez mais imprimem rigor técnico na confecção das fantasias, modernizam o tema, mas não abandonam a máscara diabólica que ironiza o público com uma chupeta na boca.

O nível de aprimoramento da fantasia de clóvis chegou a tal ponto, que costureiras especializadas cobram em média mais de mil reais por cada uma. É um mercado que cresce vertiginosamente graças à volta do Carnaval de rua, e à mobilização de blocos em torno de uma estética própria.



Estética que estimula o desejo de expressar uma relação entre o real e o imaginário. É pela fantasia que podemos ser tudo por um dia, mesmo que, na quarta-feira de cinzas, a bola do clóvis murche, a máscara caia e o palhaço perca a graça.

Isto é carnaval!

Por Maria Oliveira

Publicado em Março de 2011

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