sexta-feira, 26 de março de 2010

Festas juninas

Origem prá lá de nobre, diversão prá lá de popular

Ahn, festa junina ... quem é que não sente uma vontade gulosa de participar de várias delas, desde o momento em que os calendários das festas juninas, ou julinas, espalhadas pela cidade começam a ser divulgados? É irresistível ouvir falar em festa junina e não ter a memória invadida pelo cheirinho do milho assado, do cachorro-quente, daquele bolo de aipim que só fica diet nesta época do ano e portanto altamente permitido para ser saboreado... sem contar nas inúmeras guloseimas e brincadeiras que culminam com a tradicional “quadrilha paga-mico”, onde geralmente ou você está fantasiado a caráter e dançando feito um membro da família Buscapé ou está acompanhando atento alguém de seus afetos, sejam filhos, sobrinhos, irmãos ou apenas amigos e namorados pagando o mico- mór de pular ao grito de “olha a cobra!”.

O que a maioria como eu, você e uma legião nem desconfiavam é que tanto esta dancinha coreografada, quanto a própria festividade, tem origens européias no século VI e, alguns séculos mais tarde, será festejada pelos nobres, apreciada pela alta elite e entrará definitivamente no calendário de países como o Brasil. O quê? Você também achou que fosse uma festividade regional? Então, vamos lá!

No dia 21 de junho, no hemisfério norte, acontece o dia mais longo e a noite mais curta do ano, que marca o início do verão, e este período, hoje conhecido pelos astrônomos como solstício de verão, era comemorado desde antes do nascimento de Cristo com rituais que buscavam promover a fertilidade do solo, o crescimento da vegetação e a fartura das colheitas. Em tais comemorações, fogueiras eram acesas para livrar as plantações dos espíritos maus que podiam impedir a fertilidade – típica simbologia de rituais celtas.

Pelos idos do século VI, quando os famosos bretões, sob a liderança do legendário rei Artur, derrotam os saxões, e a Igreja Católica rivalizava com crenças pagãs, seus líderes escolheram para homenagear São João o dia 24 de junho, próximo ao solstício de verão. A festa de São João se firmou na Espanha, França, Itália e Portugal. No século 13, outros santos ganharam espaço e completaram o ciclo de festas juninas. Dia 13 para Santo Antônio, dia 24 para São João Batista e dia 29 para São Pedro e São Paulo. A partir dessa união entre a festa por boas colheitas e a festa em louvor aos santos católicos, a temível fogueira - principal elemento dos festejos agrícolas - passou a ser também uma homenagem ao nascimento de São João.

Já a dança de quadrilha surgiu na França, no século XVIII, e tem origens nas danças inglesas, com diversos passos e volteios que são mais embaraçosos do que os “anarriês” que vemos por aqui. Ela veio para o Brasil com a Corte Portuguesa no século XIX e ficou popular entre os nativos daqui, que admiravam os ares franceses da nova dança. A quadrilha, hoje em dia inserida na Festa Junina, representa a festa de casamento dos noivos, e os compadres e as comadres dançam ao som da sanfona, da viola e de outros instrumentos. A tradição, perigosa em dias de hoje, de soltar fogos de artifício veio da China, região de onde teria surgido a manipulação da pólvora para a fabricação de fogos. Da península Ibérica teria vindo a dança de fitas, muito comum em Portugal e na Espanha.

Daí para cair no gosto popular, tendo estes elementos culturais se misturado aos aspectos culturais dos brasileiros (indígenas, afro-brasileiros e diversos imigrantes europeus) nas diversas regiões do país, tomando características particulares em cada uma delas e se adaptando aos modos e costumes dos quatro cantos do Brasil. E, embora sejam comemoradas por diversos estados brasileiros, é nos estados da região Nordeste que as festas ganham satus de “carnaval carioca”. O mês de junho é o momento de se fazer homenagens aos três santos católicos, São João, São Pedro e Santo Antônio, e como é uma região onde a seca é problema recorrente, os nordestinos aproveitam as festividades para agradecer as chuvas raras na região, que servem para manter a agricultura. Isto sem esquecer que as festas representam um importante movimento econômico, já que diversos turistas visitam cidades nordestinas para acompanhar os festejos.

Hotéis, comércios e clubes aumentam os lucros e geram empregos nestas cidades. Embora a maioria dos visitantes sejam brasileiros, é cada vez mais comum encontrarmos turistas europeus, asiáticos e norte-americanos que chegam ao Brasil para acompanhar de perto tais festividades. Isto sem contar com a lucrativa indústria em que se tornaram as já célebres festas juninas de rua, que viram julinas, depois agostinas, e agora até setembrinas.

Ou seja...é quase fim de julho, mas como o brasileiro é um povo “sábio” que alonga suas datas festivas, olhe bem por aí que ainda deve estar em tempo de curtir um “olha a chuva!” e mais um monte de calóricas e reconfortantes comidinhas típicas (ou nem tanto) dignas de um santo!

Por Fernanda Barbosa

Publicado em Julho de 2008 

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