quarta-feira, 31 de março de 2010

A França...

“A França no ano que o Brasil retribui”, “O ano em que a França é celebrada no Brasil”, “O Brasil e a França que não se conhecem”... Diversos títulos me vieram à mente para abrir esta simpática matéria sobre o que se convencionou chamar de “O Ano da França no Brasil”. Não que eu seja hostil à França, au contràire, tenho certeza inabalável que minha última encarnação foi nos dourados campos de alguma cidade florida francesa, que bem poderia ser Avignon ou Bourgogne (não, eu não queria ter nascido em Paris), e amo a cultura, a arte, os perfumes e o cinema franceses... A-M-O.

O propalado “Ano...” corresponde a uma gentileza das políticas internacionais onde em 2005 o Brasil foi o homenageado da vez na França. Portanto, não há como negar a diplomacia agradável e a iniciativa culturalmente simpática no movimento inteiro. Agora, e perdoem-me os mais singelos, nobres e elevados espíritos de leitores, e colegas que acham esta e outras iniciativas “únicas”, como Rio2016, “Anos...” de diversos países aqui no Brasil sendo agendados e programados, e outros eventos que não necessariamente possuem um contexto histórico, e disto infelizmente eu não posso fugir, porque como professora de História sei que o que falta ao brasileiro classe média, alta, baixa, econômica, artística, ou qualquer outra classe, é saber História.

As pessoas não perguntam mais: “Mas por quê?” E é esta assustadora passividade sem perguntas e uma indiferença blasé, que escondem uma sincera ignorância dos fatos, é que geram os palhaços do Senado, dos Ministérios, estas pessoas que agem de má-fé e completa indecorosidade, apenas aproveitando o fato de que o brasileiro não se pergunta o motivo de nada, e odeia as aulas de História que tentem ensiná-lo a pensar e questionar os fatos.

Por que fizemos o Pan se nem tentamos reativar de verdade os Pam’s da Saúde? Por que a corrupção virou apenas motivo de bate-papo entre amigos? Por que a violência é assustadoramente imparcial na hora de atingir o cidadão? A História, vos afirmo, teria respondido ANTES suas perguntas. E, para evitar me alongar demais, pois sou prolixa e assumo (outra coisa que eu acredito que, em tempos de agilidade e rapidez, mesmo assim, faz falta- longas explicações. Em alguns casos, evitam certos erros), afirmo aqui, com todo o respeito: Amo a França e seus costumes, tenho absoluta certeza que um dia fui bretã, os seus perfumes me entontecem de tão bons, seus filmes e atores/atrizes são belos e talentosos de fazer corar um dalit, a cidade-luz é tuuuuudo de lindo.

Um espetáculo visual e artístico, quer você seja sensível ou não, quer seja você conhecedor do porque atrás de cada arquitetura ou não, você certamente se emocionará ao avistar a Catedral de MontMarte ou a de Montserrat ou ao ver o correr tranqüilo do Rio Sena e a esplêndida arquitetura do Palácio de Versalhes, com seus bidês de ouro, mas saber a História por trás da construção de tudo aquilo, ou mesmo se indagar porque homenagear a França não é só indispensável, é absolutamente preciso.

Cada vez mais as pessoas festejam, se encantam, se comovem. Cada vez mais as pessoas ficam tristes com o coitado do Diego Hypólito, que não tem patrocínio de ninguém (agora tem, ele e a irmã assinaram com o banco mais PAC-gracinha do Brasil, a Caixa Econômica) e cada vez menos pessoas param de se perguntar se o Hypólito já comeu suas “mínimas” três refeições por dia, se ele estudou bem e até que série, se o César Cielo por acaso, coitado, já deixou de ser atendido ou diagnosticado com virose. Ou então cada vez menos se importam em ser tão passivas, com o fato de haver um circuito inteiro para exaltar um país amigo, enquanto o brasileiro do Rio não sabe e nem conhece o que é uma “carpideira”, e nem de que cantão do país vem este termo, a menos que a Andréa “Grande Família” Beltrão, junto com a Marieta”um-dia-fui-srª Buarque” Severo (e não quero demonstrar desrespeito, adoro o talento de ambas) encenem uma peça no Teatro da LAGOA...

Sim. Sou francesa por afinidade. Pudesse falava francês e fazia biquinho todos os dias, e passaria tardes deliciosas admirando os museus. Mas enquanto eu falar EM português-brasileiro DE brasileiros PARA brasileiros e tantos quantos outros queiram ouvir, eu ainda vou preferir saber por que o mundo está acabando e por que todo mundo só lamenta muito?

Por Fernanda Barbosa
 
Publicado em Junho de 2009

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