Modismo que não tem eficácia comprovada
Elas chegaram assim, como quem não quer nada e aos poucos foram ocupando um espaço considerável. E como a maioria dos seus adeptos são pessoas públicas, mesmo porque para se ter uma única peça paga-se bem por ela, atiçou a curiosidade de muitos.
Força, equilíbrio, bem estar... são inúmeros os benefícios que seu uso constante promete trazer. Suposição, especulação, falsas promessas? Difícil responder tantas perguntas quando se tem apenas duas certezas.
A primeira de que a Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária - vetou qualquer tipo de propaganda em relação a tal peça justamente pela não comprovação científica de sua eficácia. Já a segunda, virou modismo e está na boca, quer dizer pulso, de muitos nobres e alguns plebeus.
O Espetaculosas está falando das pulseiras bioquânticas, facilmente notadas no pulso de celebridades como o apresentador Luciano Huck, o jogador Ronaldo e o cantor Milton Nascimento, entre tantos outros.
No site da Power Balance, uma das marcas fornecedoras, há a informação de que a pulseira possui dois hologramas quânticos de Mylar com frequências que reagem positivamente com o campo magnético do corpo, amplificando a comunicação de cada célula.
Quando há uma melhor comunicação entre essas células, o corpo também reage melhor em pontos como equilíbrio, força, flexibilidade e circulação sanguínea. Baseada nesses benefícios, fez-se uma propaganda para promover o uso do objeto. O que deu certo, até agora.
Um estudo com 79 voluntários na Faculdade de Ciências de Atividade Física da Universidade Politécnica de Madri, Espanha, demonstrou que as pulseiras não têm qualquer efeito sobre nosso equilíbrio. Conclui o médico e professor Jesús Javier Rojo, em declaração ao jornal El País.
Comandada por ele, a experiência envolveu estudantes em duas provas de equilíbrio. Uma com a pulseira que continha os hologramas quânticos, outra na qual esses mesmos hologramas foram retirados sem que ninguém soubesse. Sua revelação só veio após a conclusão dos resultados.
Por aqui, a comercialização das pulseiras bioquânticas não está proibida. Mas a publicidade em torno delas. Uma vez que não há comprovação quanto aos benefícios prometidos pelo uso das mesmas.
Entenda mais sobre seu significado
O holograma é a representação de um objeto que reproduz uma imagem em formato tridimensional. No caso da pulseira, está localizado bem no centro dela. Já a polêmica quanto sua eficácia surgiu pela falta de embasamento científico.
Segundo especialistas, os hologramas não interagem com o corpo. Além disso, não há nenhuma ligação com a emissão de frequências no campo magnético e muito menos, com o aumento de força no usuário.
Força está ligada à características genéticas e treinamento físico. O mesmo acontece com a flexibilidade. Enquanto que a regularização do equilíbrio e a circulação sanguínea são fatores determinados pelo sistema nervoso central.
Sendo assim, conquistar esses benefícios depende do estado geral da saúde de cada um. Assim como sua qualidade de vida. Por isso a resposta mais plausível para essa “impressão” que se deu em torno do uso da pulseira está relacionada ao efeito psicológico do usuário.
Ou seja uma vez criada a sensação de que àquele objeto influencia no bem estar de quem o usa, ele vai funcionar.
Recentemente um estudo publicado na revista British Medical Journal concluiu que acessórios com ímãs para curar problemas, que vão desde dores nas costas até câncer, não têm efeito comprovado.
E mais, a venda de palmilhas, braceletes, pulseiras e tornozeleiras magnéticas movimenta mais de US$ 1 bilhão por ano em todo mundo.
Não caia no conto do vigário
Se você não quer ser envolvido por propagandas enganosas, fique ligado em algumas dicas. Primeiro, desconfie de produtos que prometem milagres quanto a um determinado benefício.
Faude geralmente está relacionada a produtos com nomes estrangeiros, pois além de impressionar o consumidor conquista fácil os que não sabem seu verdadeiro significado.
Palavras como “natural” e “saúde”, termos científicos e a afirmação de que foram descobertos por cientistas renomados, também servem de atrativos para atingir seu alvo. Ou seja, o consumidor.
Por Tatiana Bruzzi
Publicado em Novembro de 2010