Entrevista - Shaman Urbano


Shaman Urbano tem 30 anos e é tatuador há três. Para ele, tatuagem é arte e trabalhar fazendo o que se ama é quase uma terapia. Através de uma conversa, a repórter Luciana Leira esclareceu curiosidades e pegou dicas úteis para quem, assim como ela, pensa em se tatuar. Confira!

Espetaculosas: Você acha que o preconceito em relação a tatuagem tem diminuído?




Shaman Urbano: Não, muito pouco. O preconceito tá mascarado pela moda. É o que passa na TV, as pessoas tem procurado por esse motivo, mas ainda há dificuldade de aceitação das pessoas tatuadas em alguns grupos e para arrumar emprego.

ES: Quem procura a tatuagem hoje?

SB: Todo mundo, não há mais um público diferenciado. A tatuagem hoje está muito difundida, TV, novelas, filmes, Reality shows. Também tá bem balanceado entre homens e mulheres.

ES: O que você acha imprescindível para ser um bom tatuador?

SU: Para mim, é uma regra. Um bom tatuador precisa antes de tudo saber desenhar; utilizar materiais e equipamentos de boa qualidade e nunca colocar o dinheiro acima de uma boa tatuagem. Quando o cara trabalha bem, o dinheiro é uma conseqüência. Tatuagem é arte e a arte tem que vir na frente.

ES: Qual o cuidado que a pessoa precisa ter quando vai fazer uma tatuagem. Principalmente, quem nunca fez e não conhece muito o assunto?

SU: É dever procurar um estúdio conhecido, que já tenha nome, pesquisar sobre o tatuador. Todo cliente tem o direito de ver e perguntar sobre os equipamentos, agulhas, esterilização, tintas, qual o processo usado... Nunca pechinchar! A boa tatuagem não se mede pelo preço e sim pela qualidade. E pensar bem, procurar um desenho que goste bastante, evitar os modismos, para não ter arrependimentos depois.

ES: Quando a tatuagem é mal feita dá para consertar?

SU: Dá, mas as vezes não dá para fazer o que o cliente queria.  Na cobertura, a gente tem que encaixar um desenho em cima do outro e nem sempre fica do jeito desejado. Às vezes, a gente tem que montar o desenho de acordo com o que o cliente já havia tatuado antes.

 Olha eu aí, com toda coragem, fazendo minha mais nova tatuagem. E ficou linda!

 ES: Quais os desenhos mais procurados?

SU: As mulheres procuram muito flores, borboletas e símbolos. Já os homens, os campeões são os dragões, carpas e desenhos Maori, estilo polinésio.

ES: Já passou por alguma saia justa tatuando?

SU: Cantadas, tem muito assédio. A gente também é meio psicólogo, tem clientes que contam seus problemas e até choram com a gente. [Risos]

EP: Se você não fosse tatuador, o que seria?

SU: Nem sei...(pensativo). Na verdade eu já fui muita coisa: cobrador de van, camelô, designer gráfico, trabalhei com estamparia, mas a tatuagem é a minha paixão desde a adolescência. Porém, quero muito mais profissionalmente. Pretendo viajar, conhecer outras culturas e outros tatuadores. E, quando estiver mais velho e mais experiente, ter meu próprio estúdio. 

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Tatuagem



Conhecendo a arte de perto



Sempre gostei de tatuagem. Quando era pequena, fazia aquelas que vinham dentro do chiclete, que a gente cola com água. Às vezes, desenhava com canetinha, para delírio da minha mãe. 

Na adolescência, isso passou batido por mim. Tantas mudanças, transformações, que eu nem me lembrei delas. Mas um dia decidi, assim de bate – pronto, que iria fazer uma tatuagem. E fiz!

Ficou uma porcaria! O cara era um péssimo profissional... Ao longo do tempo, fiz outras, bem pensadas e bem feitas. Mas somente agora, dez anos depois, consertei o erro e refiz minha primeira tatuagem.

De onde vem essa vontade de pintar o corpo?

Há mais de 3500 anos atrás, a tatuagem já existia como forma de expressão da personalidade ou de indivíduos de uma mesma comunidade tribal (união de pessoas com as mesmas características sociais e religiosas).

Os primitivos se tatuavam para marcar os fatos da vida biológica: nascimento, puberdade, reprodução e morte. Depois, para relatar os fatos da vida social: virar guerreiro, sacerdote ou rei; casar-se, celebrar a vida, identificar os prisioneiros, pedir proteção ao imponderável, garantir a vida do espírito durante e depois do corpo.

A arte pré-histórica contém vestígios da existência de povos que cobriam o corpo com desenhos. Em muitos casos, foram encontrados desenhos de formas humanas com pinturas em seus corpos, assim como estatuetas com esses mesmos desenhos corporais indicando a possibilidade da existência da tatuagem nesses povos.

Existe uma hipótese de que as tatuagens tiveram sua origem com marcas de cicatrizes adquiridas em guerras, lutas corporais e caças. Essas cicatrizes eram motivo de orgulho e reconhecimento ao homem que as possuísse, pois representavam força e vitória.

A partir da idéia de que essas marcas eram sinônimo de vitalidade, o homem passou a marcar-se voluntariamente e, com o tempo, as cicatrizes sem sentido deram lugar a criação de desenhos com o uso de tintas vegetais e espinhos para introduzi-las à pele.




Na era Cristã, na clandestinidade, sob o jugo do poder pagão, os primeiros cristãos se reconheciam por uma série de sinais tatuados, com cruzes, as letras IHS, o peixe, as letras gregas.

Já na era moderna, a tatuagem passou por vários anos de marginalidade. Ela retorna a ser questão de relevância em nossa sociedade quando surge em artistas de música, cinema e em pessoas comuns.

Deixando de ser um símbolo de marginalidade e sim uma forma de expressão individual de arte e estética do corpo, a tatuagem não é mais tosca como as de cadeias, e sim um desenho de traços mais finos e cores variadas, uma bela obra de arte.

Cuidados a serem tomados

As tatuagens são feitas com pigmentos importados de origem mineral, principalmente, e com agulhas específicas para tatuar, sempre descartáveis e nunca reutilizadas (mesmo que seja na própria pessoa).   

As máquinas elétricas, preferencialmente, devem ter a ponteira de aço inox cirúrgico e/ou descartáveis, devem ser limpas por ultra som e esterilizadas com estufa a uma temperatura igual ou superior à 170 º C por um período de pelo menos 3 horas.

Quanto ao tatuador, este deve usar luvas e máscara para procedimentos, evitando, assim, uma possível infecção ou até a contaminação por doenças como hepatite, AIDS, tuberculose, esporos patogênicos, bactérias e fungos.

Por Luciana Leira 

Publicado em Julho de 2012

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