O Natal e a crise
Dezembro chegou e a decoração dos shoppings já nos lembra de que “Então é Natal”! Logo, é tempo de gastar dinheiro com presentes e festas de confraternização. Mas é hora também de cautela ao se fazer um crediário, ou se deixar seduzir por ofertas que acumulem dívidas intermináveis. Afinal, como na versão de Claudio Rabello para a música de John Lennon /Yoko Ono, “o ano termina e nasce outra vez”.
O desejo de consumir é inerente à sociedade pós-moderna. Quem não participa dessa lógica é considerado um excluído, o que gera insatisfação e revolta. Assim aconteceu em Londres, em agosto deste ano, quando jovens de classes baixas saquearam e queimaram lojas.
Para o sociólogo Zygmunt Bauman, autor de livros voltados para o tema, como “Vida para Consumo”, o que aconteceu na capital britânica é um reflexo da desigualdade social e do consumismo exacerbado. E faz uma crítica a políticas engajadas ao sistema financeiro: “Busca da felicidade não deve ser atrelada a indicadores de riqueza”.
Outro movimento inspirado na desigualdade econômica, o Ocupem Wall Street, que começou em setembro no distrito financeiro de Nova York, se espalhou por demais cidades americanas e pelo mundo. Os participantes corroboram com a ideia de Bauman, ao dizerem que as estruturas políticas devem servir o povo e não apenas aqueles que acumulam riqueza e poder.
Em meio à crise financeira mundial, a boa notícia, divulgada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), é que o total de famílias brasileiras endividadas atingiu em novembro o menor índice do ano. Isso significa que a intenção de consumo das famílias (ICF) pode subir.
A notícia animou os varejistas que esperam um aumento de 10% a 15% nas vendas neste fim de ano. “Mesmo em ritmo menor, as famílias se mostram mais confiantes tanto em relação ao emprego quanto à renda, impactando poisitivamente no resultado mensal”, afirma o economista da Confederação, Bruno Fernandes.
Entretanto, pesquisas e teorias à parte, o que está em questão mesmo é a festa Natalina. Nesta, o consumidor, influenciado pela propaganda e pressionado pelos filhos que querem o presente prometido por Papai Noel, acaba se rendendo ao apelo das lojas. Resultado: compra no cheque pré-datado, cartão ou carnê, em prestações a perder de vista, e deixa o problema para o ano seguinte. Afinal, a recompensa do esforço virá nas carinhas felizes das crianças, ao desatarem a fita dos embrulhos, e realizarem o sonho de ganhar um playstation, uma bicicleta ou, no caso da menina, uma boneca da coleção Monster High. Então é Natal!
Por Maria Oliveira
Publicado em Dezembro de 2011