terça-feira, 15 de maio de 2012
Herança dolorosa
A incapacidade, ou
seja, a falta de condição de realizar tarefas ou aptidões causa um enorme
sofrimento e, por conseguinte, baixa autoestima. Mais grave ainda, se a perda
de habilidade ou função ocorrer devido a alguma doença. Isso é o que acontece a
pacientes que sofrem da síndrome Machado-Joseph.
A síndrome de Machado-Joseph é uma doença
crônica, hereditária e dominante que afeta estruturas neurológicas responsáveis
principalmente pela coordenação dos movimentos e equilíbrio. Entre essas
manifestações, poderá haver dificuldade para caminhar e pegar objetos, além de
sintomas como alterações na fala, dificuldade para engolir, visão dupla e
parkinsonismo, isto é, perda dos movimentos espontâneos do rosto, que se tornam
mais lentos.
Também conhecida como ataxia
espinocerebelar do tipo 3 (ou SCA 3), a manifestação ocorre devido a uma expansão do trionucleotídeo, presente
no cérebro, que afeta a produção de uma proteína chamada ataxina 3. Esse
mecanismo provoca um processo degenerativo no sistema nervoso. A doença pode
atrofiar cerebelo, tronco cerebral, medula, nervos periféricos e núcleo da base
cerebral
O nome clássico da doença foi dado em homenagem
às famílias açorianas Machado e Joseph, primeiras a manifestarem os sintomas.
Entretanto, existem relatos de que a doença surgiu na Ásia há sete mil anos e
depois se espalhou para Europa e outras regiões. No Brasil, chegou com a
colonização portuguesa e corresponde a 80% dos casos no Rio Grande do Sul, e em São Paulo entre 40% e
50%. A incidência é de 0,3 a
2 pessoas acometidas a cada 100 mil habitantes no mundo, segundo especialistas.
O gene responsável pela doença foi descoberto em
1994, e atinge pelo menos três gerações de uma mesma família. As chances de ser
transmitida do pai para o filho são de 50%. Geralmente, a doença se manifesta
na idade adulta, entre 35 e 50 anos, podendo surgir mais tarde ou mais cedo
conforme a gravidade.
Felizmente, a Machado-Joseph (DMJ) não causa danos mentais
aos pacientes. Mas, ainda que se mantenham lúcidos, inteligentes e com a
memória normal, muitos sofrerão de depressão e de isolamento social. A
dificuldade de comunicação, por exemplo, devido a distúrbios da fala, leva a
esse comportamento. Porém, os sintomas podem ser aliviados com
acompanhamento de neurologistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos,
além do apoio familiar e de amigos.
Embora ainda não
exista um tratamento que interrompa o curso ou prevenção da doença, entre as
pessoas ainda sem sintomas, há uma equipe da área de genética do Hospital de
Clinicas de Porto Alegre empenhada no assunto. O grupo estuda há 15 anos a
doença e testa em voluntários o uso do Lítio, como um neuroprotetor. Segundo a
chefe da equipe, Dra. Laura, o objetivo do experimento é impedir o dano
neurológico, e o resultado da pesquisa poderá ser revelado no próximo ano.
Por Maria Oliveira
Publicado em Maio de 2012
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