sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Chicago e a Era do Jazz

Quem foi ao festival carioca Back2Black, voltado para a cultura negra, certamente fez uma viagem musical fascinante. O embarque foi na Estação Leopoldina e o percurso incluía ritmos e canções africanas, passando pela música dos americanos, como o blues e o jazz, mas não faltou a música brasileira na parada. Peguei carona nesse trem e fui até Chicago, cidade considerada um dos berços do blues e jazz. 

A cidade de Chicago está situada no estado de Illinois, na margem ocidental do Lago Michigan. Conhecida por Cidade dos Ventos, cuja temperatura cai muito no inverno, sua expansão econômica começou em meados do século XIX, graças à forte imigração de europeus, à construção das primeiras ferrovias e de um canal navegável que comunicava o lago com o rio Mississippi.

A história de Chicago com o jazz começou depois da Primeira Guerra Mundial, quando ocorreu uma significativa revolução nos hábitos e costumes americanos. O teatro e a literatura se apropriaram de uma liberdade de expressão nunca antes experimentada para se comunicar com o público. A mulher americana “ia além de qualquer limitação imposta pela decência”: encurtou os vestidos, fumava, bebia e dançava escandalosamente.

Nesse contexto, firmou-se a indústria americana de show business no cinema, no teatro, nos shows e na música como negócio lucrativo. Por conta disso, houve uma emigração de negros para as grandes cidades como Chicago e Nova York, em busca de melhores oportunidades de emprego. Entre essa massa de trabalhadores estavam os músicos de blues, que saíram do delta do Mississsipi para Chicago.

A década de 1920 é conhecida como a Era do Jazz. Nessa época, Chicago era dominada pelas gangues de Al Capone, que agiam no comércio ilegal de bebidas.

Não por acaso, o famoso gângster era dono da maioria dos cabarés, onde se misturava bebida com a música de jazz, formando o coquetel mais romântico da época. Foi assim que, atraídos pela oportunidade de tocarem profissionalmente, os trompetistas Louis Armstrong e Bix Beiderbecke vieram de New Orleans para se apresentarem em speakeasies de Al Capone.

De lá para cá, a música continuou tendo um lugar muito especial em Chicago. Qualquer estilo tem espaço nesta cidade, mas o jazz e blues são os gêneros que caracterizam o local. Desse modo, não faltam lugares onde se possa ouvir uma boa música típica.




A Casa de Blues, Blue Chicago, o Buddy Guy´s Legends e House of Blues Chicago são recomendados para este fim.



Assim como no Rio de Janeiro a Lapa é considerada o local da boemia, em Chicago, no baixo Naperville, o visitante vai encontrar semelhança da vida noturna carioca com a de lá, especialmente na conhecida Rush Street.



Nesta rua, iluminada por letreiros e muito movimentada, fica o famoso Jilly’s, the Piano Bar, que era o favorito de Frank Sinatra. Além da fama musical do lugar, no entorno, circulam bêbados, pedintes e prostitutas como personagens coadjuvantes da cena urbana.



Os bares ficam cheios à noite. A maioria é revestido de madeira para proteger os clientes do frio, e usam pouca luz ambiente para dar o tom aconchegante ao local. O Hugo’s Frog Bar Fish House é assim. Localizado na North Rush, quase esquina com East Chestnut Avenue, o restaurante tem cardápio que combina os sabores do mar com o do mangue.



No Frog Bar não se ouve jazz executado por Louis Armstrong. Em troca, o cliente pode degustar um delicioso Stuffed Salmon acompanhado de queijo brie. Antes, a dica é experimentar a sopa de rã. Depois, é só sair para dançar por ali mesmo, sem precisar se deslocar muito.



Chicago é tão sedutora que inspirou muitas histórias. Na literatura, a cidade é marcada por questões políticas e étnicas em “O projeto Lázarus”, de Aleksandar Hemon. No cinema, ficou eternizada pelo musical Chicago.



Como centro tradicional do blues e do Jazz, a cidade abriga The Chicago Blues Festival em que se apresentam artistas do top de Big Bill Morganfield, filho do lendário Muddy Morgarfield.



Diferentemente do tom melancólico do blues, em Chicago, o transeunte tem que conviver com o som estridente das sirenes de carros de polícia e bombeiro que circulam pelas ruas. Aparentemente, não há nada ao redor que justifique tanto estardalhaço. Entretanto, parece que o fantasma de Al Capone e de seus comparsas ainda aterrorizam a cidade, pondo a segurança sempre em alerta. Para o visitante, a impressão é de que uma aura de mistério envolve a noite de Chicago e nos remete à Era do Jazz.

Por Maria Oliveira

Publicado em Setembro de 2010

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