domingo, 28 de agosto de 2011
Vamos vadiar?
As mulheres estão nas ruas tirando a maior “onda” nesta primeira década do século XXI. Se no passado o movimento era pelo direito político de votar, depois veio o de liberação sexual, neste a mulherada luta para corrigir as falhas das primeiras conquistas. A igualdade de gênero, por exemplo, não ficou bem definida. Por isso, agora, o mote é pela liberdade de se vestirem como gostam sem que sejam vistas como vadias.
Segundo acadêmicos, a história do movimento feminista se divide em três "ondas". A primeira onda se refere principalmente ao sufrágio feminino, movimentos do século XIX e início do XX, preocupados principalmente com o direito da mulher ao voto. A segunda onda se refere às ideias e ações associadas com os movimentos de liberação feminina iniciados na década de 1960, que lutavam pela igualdade legal e social para as mulheres. A terceira onda seria uma reação aos erros da segunda, iniciada na década de 1990.
Hoje, a luta das mulheres está centrada no direito à sua autonomia e à integridade de seu corpo. Por conta disso, há quem defenda o aborto e métodos contraceptivos desde que cercados por cuidados hospitalares de qualidade. Mas a ideia de “o privado é político, nosso corpo nos pertence” vai além de causas subjetivas. Elas querem mais proteção, lutam pelo fim da pedofilia, da violência doméstica, assédio sexual e estupro. E foi nesse contexto que surgiu a "Marcha das Vadias", (SlutWalk, em inglês).
O movimento teve início no Canadá, em abril deste ano, depois que ocorreram diversos casos de abuso sexual em mulheres na Universidade de Toronto. O estopim da marcha foi a observação do policial Michael Sanguinetti para que as mulheres evitassem se vestirem como putas, evitando serem vítimas de estupro.O primeiro protesto levou 3000 pessoas às ruas de Toronto. No Brasil, a marcha também chama atenção para o número de estupros ocorridos no país. Por ano, cerca de 15 mil mulheres são estupradas.
As mulheres, durante a marcha, usam roupas provocantes como: blusinhas transparentes, lingerie ou apenas o sutiã, minissaias, salto alto e muita maquiagem. De acordo com a antropóloga Julia Zamboni, essa é a forma pela qual elas protestam contra a cultura machista ao serem chamadas de vadias. “Homens dizem que a gente é vadia quando dizemos 'sim' para eles e também quando dizemos 'não'. A gente é vadia porque a gente é livre”, sentenciou.
A primeira Marcha das Vadias no Brasil ocorreu em São Paulo, no dia 4 de junho de 2011. As redes sociais, como o Facebook, ajudaram muito na divulgação do evento dentro e fora do país. Mais de 6000 pessoas confirmaram presença na passeata. No entanto, parece que as brasileiras ainda sofrem com o medo de serem ridicularizadas: somente cerca de 300 pessoas compareceram, de acordo com a contagem da Polícia Militar. Outros estados seguiram a ideia como Recife, Brasília e Rio de Janeiro.
Diferentemente das paulistas, as cariocas são descontraídas pela própria natureza. Assim, ajudadas pelo calor da Cidade Maravilhosa, as manifestantes percorreram a orla de Copacabana do jeito que a marcha sugere: pouca roupa. De acordo com o site Último Segundo, o evento reuniu cerca de 1.500 pessoas no dia 2 de julho deste ano.
As integrantes do movimento levaram cartazes com palavras de ordem como o direito ao atendimento gratuito no Sistema Único de Saúde (SUS) para vítimas de violência sexual, melhorias nas Delegacias Especiais de Atendimento às Mulheres (DEAMs) e a qualificação das delegacias não especializadas para atender vítimas de violência sexual e doméstica, com capacitação de agentes da segurança pública sobre diversidade sexual.
A mais recente Marcha das Vadias de que se tem notícia é a da Costa Rica. Lá as mulheres se manifestaram contra as declarações feitas pelo bispo Francisco Ulloa, que no meio da celebração católica mais importante do país, em homenagem à Virgem de Los Angeles, afirmou que as mulheres devem vestir com "recato" e "pudor". Depois dessa, possivelmente outras “ondas” feministas virão e arrastarão, pelas ruas do mundo inteiro, quem estiver disposta a lutar por seus direitos.
Por Maria Oliveira
Publicado em agosto de 2011
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