terça-feira, 27 de julho de 2010

Vaidade que custa vidas

Pele macia e bronzeada, cabelo brilhoso, roupa perfumada. É claro que esses procedimentos de higiene provocam um bem estar danado a seus adeptos, mas em nada justifica o que as marcas de cosméticos fazem até obter um produto de sucesso.

Não é novidade para ninguém. Antes de um produto ser lançado, o mesmo é posto em fase de testes até alcançar o resultado desejado. E a principal preocupação é a certeza de que aquele shampoo, perfume ou detergente, seja nocivo à saúde.

Até aí, tudo bem. Ninguém quer consumir algo que seja prejudicial a si e muito menos à família. O problema é quando os testes, que permitem obter esta certeza, são feitos em cobaias. E como nenhum fabricante irá permitir que o próprio consumidor assuma esse papel, cabe àqueles que não possuem autonomia para aceitar, ou não, o desafio. Ou seja, os animais.

Quase todas as experiências científicas são realizadas em animais de laboratório, que acabam sendo vitimas de procedimentos testados nas áreas de estética, genética e farmacêutica, em descobertas de novos medicamentos e vacinas, além das escolas e universidades.

As empresas fabricantes de perfumes, cosméticos, cremes, sabonetes e materiais de limpeza costumam realizar experiências cruéis em animais, antes de lançarem seus produtos no mercado. As vítimas na grande maioria são os coelhos, por causa dos olhos grandes, e animais domésticos como cães e gatos.

A alegação dessas empresas para realização de tal barbárie é a de que buscam aferir a toxicidade dos produtos, garantindo efeitos que não sejam prejudiciais ao homem. Mas saiba que os testes constituem em procedimentos causadores de dor, sofrimento e lesões muitas vezes irreversíveis.

Os animais são obrigados a ingerir e inalar produtos químicos, arremessados contra paredes de concreto, têm suas gengivas deslocadas e arcada dentária extraída. Além disso, submetidos à radiação de armas químicas e biológicas. Têm pêlos arrancados e a pele removida, para aplicação de produtos. Há ainda casos de exposição a gases tóxicos, balas na cabeça e dissecação, enquanto vivos.

Há tempos testes em animais vem apresentando ineficácia, mesmo assim ainda há indústrias que não abrem mão dessa alternativa por ser um procedimento barato. Aqui no Brasil a lei enquadra como crime testes em animais, desde que existam alternativas.

A boa notícia é que essas alternativas estão surgindo. Muitas empresas, inclusive de outros países, aboliram os testes e passaram a investir em tecnologia. A FRAME - Fundação para substituição dos animais em pesquisa -, propõe a substituição do teste de Draize de irritação dos olhos pela técnica de captação de vermelho neutro, que atualmente está sendo testada pela Fundação Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro.

Já indústrias de alguns países desenvolvidos buscam alternativas para a fabricação de cosméticos livres de testes em animais, em todas as etapas da fabricação, que vão desde os ingredientes até o produto final.

Por fim, a ARCA Brasil iniciou um trabalho sobre o uso de animais para testes de cosméticos e pede a ajuda do consumidor na busca por alternativas. A campanha funciona da seguinete forma. O consumidor envia mensagens aos fabricantes de cosméticos mostrando seu ponto de vista e a empresa tenta negociar com as indústrias.

O contato deve ser feito através do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) dos produtos e conter as seguintes perguntas:

1- Se a empresa faz testes de seus produtos em animais.

2. Se os fornecedores de matéria-prima da empresa fazem testes em animais.

Envie uma cópia do seu e-mail para a ARCA Brasil. No caso do contato com a empresa for por telefone, peça um comprovante da resposta via e-mail.

Os testes mais comuns

Teste Draize de Irritação dos Olhos - Utilizado para medir a ação nociva dos ingredientes químicos encontrados em produtos de limpeza e cosméticos. São observadas as reações causadas na pela e olhos de animais. Os produtos são aplicados diretamente nos olhos dos animais conscientes. Durante o período de uma semana, os animais podem sofrer dor extrema, mutilação e cegueira. Para prevenir que os bichos arranhem os olhos, são imobilizados em suportes, de onde somente as suas cabeças se projetam. É comum que seus olhos sejam mantidos abertos permanentemente através de clips de metal que seguram suas pálpebras. No final do período, eles são mortos para averiguar os efeitos internos das substâncias experimentadas. Os coelhos são os animais mais utilizados nos testes Draize porque são baratos e fáceis de manusear. Seus olhos grandes facilitam a observação dos resultados.

Teste Draize de Irritação Dermal - Consiste em imobilizar o animal enquanto substâncias são aplicadas em peles raspadas e feridas. Uma fita adesiva é pressionada firmemente na pele do animal e arrancada violentamente. Repete-se esse processo, até que surjam camadas de carne viva. Substâncias são aplicadas à pele tosada do animal.

Teste LD 50 - Abreviatura do termo inglês Lethal Dose 50 Perercent (dose letal 50%). Criado em 1920, serve para medir a toxicidade de certos ingredientes. Cada teste LD 50 é conduzido por alguns dias e utiliza 200 ou mais animais. Durante esse período, os animais sofrem dores, convulsões, diarréia, supuração e sangramento nos olhos e boca. No fim, os que sobrevivem são sacrificados. Anualmente, cerca de 4 a 5 milhões de animais nos EUA são obrigados a inalar e ingerir (por tubo inserido na garganta) loções para o corpo, pasta dental, amaciantes de roupa e outras substâncias potencialmente tóxicas. Mesmo quando o LD 50 é usado para testar substâncias claramente seguras, é praxe buscar a concentração que forçará a metade dos animais à morte. Os animais são expostos a exorbitantes quantidades da substâncias proporcionalmente impossíveis de serem ingeridas acidentalmente por um ser humano. Por isso, um prognóstico seguro da dose letal para os humanos é impossível de ser detectado através dos animais.

Testes de toxidade alcoólica e tabaco - Animais são obrigados a inalar fumaça e se embriagar, para que depois sejam dissecados. Experimentos na área da psicologia

estudo comportamental, incluindo privação da proteção materna e privação social na inflição de dor - afastar os animais da convivência de outros animais -, para a observação do medo. No uso de estímulos aversivos, com choques elétricos, e na indução dos animais a estados psicológicos estressantes, como afastando os filhotes recém nascidos de sua mãe.

Experimentos armamentistas - Os animais são submetidos à radiação de armas químicas e biológicas, assim como a descargas de armas tradicionais. São expostos a gases e baleados na cabeça, para estudo da velocidade dos mísseis.

Pesquisas dentárias - Os animais são forçados a manter uma dieta nociva com açúcares, e hábitos alimentares errôneos para adquirirem cáries e terem gengivas descoladas e a arcada dentária removida.

Teste de colisão - Os animais são lançados contra paredes de concreto. Babuínos, fêmeas grávidas e outros animais são arrebentados e mortos nesta prática.

Dissecação - Animais são dissecados vivos nas universidades e outros centros de estudo.

Práticas médico-cirúrgicas - Milhões de animais são submetidos a cirurgias nas faculdades de medicina.

Marcas que ainda fazem testes em animais

Calvin Klein, Colgate, Palmolivre, Protex, Sorriso, Davidoff, Joop, Marc Jacob, Rimmel, Sally Hansen, New York Color, Close Up, Rexona, Seda, Axe, Dove, Schwarzkopf, Carefree, Clean & Clear, Neutrogena, OB, Sempre Livre, Sundown, Cacharel Perfumes, Garnier, Giorgio Armani, Helena Rubinstein, Kérastase, Kiehl´s, Lancôme, La Roche Posay, Matrix Essentials, Maybelline, Ralph Lauren Perfumes, Redken, Vichy, Listerine, Aussie, Herbal Essenses, Cover Girl, Oral B, Hugo Boss, Max Factor, Pantene, Veet.

Veja a lista completa das marcas que fazem, e as que não fazem, testes em animais no site http://www.pea.org.br/ 

Por Tatiana Bruzzi

Publicado em Julho de 2010

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