terça-feira, 27 de julho de 2010
“Stallone tinha razão”
ou “A Ciça também tem”
Ahn, o brasileiro. Este cidadão descolado, famélico, intelectual - funcional (o analfabeto funcional lê e escreve o básico, não interpreta nem abstrai, ou seja, sem imaginação e conhecimento. O intelectual funcional sabe o nome de alguns autores, sabe alguns títulos de filmes, ouviu falar em uma série de tendências e histórias, mas não sabe ao certo o que significam. Ah, isto não sabe!) e tão ofendido quando alguém fala verdades ao redor do mundo sobre nossa pátria! Saco isto, viu?
Um atorzinho ex-pornô, tosco, feio e sem o menor talento dramático, a não ser para fechar o olho ou arregalar ambos e torcer a boca do lado esquerdo para o direito... Quem ele pensa que é para chegar aqui, pagar qualquer bagatela para locar espaços, pessoas, material e serviços (pelos quais, inclusive, ainda não pagou), utilizar o mínimo de segurança em suas filmagens de ação (poxa, lá fora eles pagam seguro para as pessoas envolvidas em determinadas filmagens, aqui alguém recebeu seguro Bradesco?) e ainda debochar de nosso povo acolhedoramente ignorante e supostamente cabeça feita e bem antenado?
Sei não. Será que ele leu os noticiários das últimas 72 horas antes de falar tanta bobagem, insinuando que as pessoas aqui gostam de apanhar e ainda agradecem a pancada? A culpa é deste monte de jogador de futebol sem instrução. Eles ganham fama e dinheiro rápido demais, um dia ovo frito na marmita, outro dia salmão grelhado no motel... Não, a culpa também é deste monte de político sem curso superior, corruptos pobres e vendo muito dinheiro, que seria esperado?
Ou talvez a culpa seja deste monte de filhinho de papai milionário, pós-graduado, que nunca dá valor ao sacrifício do dia a dia, e saem correndo por aí em seus carrinhos de brinquedo que amassam pára-choque e arremessam gente longe. Não. Definitivamente, a culpa é desta gentinha que faz concurso público e, mesmo tendo salário fixo (coisa boa demais em um país de miseráveis) 13º, pagamento de férias, isto tudo e mais o que podem pegar de empréstimo consignado no contracheque, ainda acham de se corromperem ora para adiantar processo, ora para atrasá-los, ora para periciar alguém, ora para liberá-lo de perícia, ora para prendê-lo, ora não... droga!
É muita gente esquisita no meu país de pedófilos assumidos e traficantes engravatados! Não sei quem dá tanta razão ao tosco do Rambo. Que ódio me dá pensar que um ítalo-americano, que sequer chega aos pés dos atores também ítalo-americanos da saga The Godfather- O Poderoso Chefão, em se tratando de talento dramático, fez sarcasmo (!) (nem sei se ele sabe o que é isto, canastrão que é) com o meu país. Logo o meu, tão simpático, tão acolhedor, tão mistura de Manhattan com Faixa de Gaza e uma pitada de Soweto.
Meu país moderno. Que vai sediar a próxima Copa do Mundo e as Olimpíadas de 2016, mesmo que as minhas crianças cresçam e não saibam quem foram os gregos, os troianos, ou mesmo o que twitter signifique literalmente. Ou até mesmo o que um estado tão longe e tão inóspito como Brasília está fazendo no roteiro da Copa (Pai, quem invadiu aquele monte de mato lá longe e fez tanta casa de concreto, parecendo um grande Ciepão? Me diz, porque eles foram parar lá?).
Ele não tinha o direito de meter o dedo feio na minha cara sem-vergonha e dizer que eu sou parte de um povo acomodado, que ri de tudo e de todos, de uma gente que agradece ter inclusão digital, mas que não sabe interpretar um poema. De um povo que aplaude Justin Bieber mas nem conhece Lupicínio Rodrigues.
Saco, viu? Nunca mais vejo filme dele. Ou não.
P.S.: Porque a Ciça tem razão? Simples. Pois se o nosso país já provou que tem uma das justiças mais injustas e desleixadas do mundo, onde um processo e um inquérito demoram o bastante para que as cicatrizes dos que estão feridos e envolvidos no turbilhão nunca cure. A melhor saída é não querer nada. E nem me venham com a hipocrisia colonial de dizer “ah, mas é por isto que aqui nada dá certo” porque já cansei de ver meus olhos tristes observarem estarrecidos crimes e mais crimes, de todos os quilates, gabaritos e classe sociais, não sair do zero a zero mesmo que as partes envolvidas mobilizem lágrimas, milhões e muito, mas muito sofrimento... Então, deixem os vivos com suas dores, mas não cobrem mudanças aqui. Porque disto eu duvido.
Por Fernanda Barbosa
Publicado em Julho de 2010
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