domingo, 4 de novembro de 2012

O homem e a tal da pílula


Neste século XXI os estereótipos da masculinidade estão com os dias contados, frente às mudanças dos papéis sociais de cada gênero no âmbito familiar e público. A partir daí, o machismo ficou obsoleto e o homem passou a dividir tarefas domésticas, agora que a mulher também passou à provedora e chefe da casa.  E, como se não bastasse, em breve ele poderá assumir o controle da prole, caso a pílula anticoncepcional masculina seja aprovada.

 A mudança do papel feminino, ocorrida a partir da década de 1960, repercutiu diretamente no comportamento do homem. Este precisou se despir de sua “superioridade” de macho - que muitas vezes chegava ao extremo uso da violência - para se render aos novos tempos. Embora essa conquista ainda esteja em processo, a mulher que fique atenta para outra novidade: a versão masculina da pílula anticoncepcional está sendo testada em cobaias por pesquisadores norte-americanos.

O método desenvolvido por Martin Matzuk, da Faculdade Baylor de Medicina, no Texas, e James Bradner, da Universidade Harvard, consiste em injetar a substância identificada por JQ1. Esta droga atua em uma proteína importante para o desdobramento do DNA das células de Sertoli, que proporcionam suporte estrutural e metabólico para as células durante a espermatogênese. Esse processo aplicado faz travar essa metamorfose, impedindo que os genes certos sejam ativados. O resultado da pesquisa indicou uma redução drástica do número de espermatozoides dos bichos.




Segundo o cientista Matzuk, o único efeito colateral da droga, observado nos roedores, foi a diminuição do tamanho dos testículos, que vai de 15% a 50% nos bichos. Adianta, porém, que não há efeitos no pênis ou no desejo sexual.

Para o médico urologista Luiz Carlos Gonçalves de Oliveira, ainda é prematuro afirmar que o método seja seguro se aplicado no homem. “Cada vez que o homem ejacula, ele elimina 200 a 500 milhões de espermatozoides  No ato sexual, estes são lançados no interior da fêmea para que um espermatozoide possa fecundar o óvulo naquele momento. A diferença entre o anticoncepcional da mulher é que a substância tem o efeito de inibir um óvulo a cada mês e, no homem, o remédio teria que eliminar milhões de espermatozoides”, explica.

Quanto ao uso do anticoncepcional feminino, e a quantidade de óvulos eliminados do organismo pelo efeito do remédio, o ginecologista da UFRJ Mário de Barros Filho tranquiliza: “É um erro de o senso comum pensar que o anticoncepcional gera uma perda de óvulos. A mulher já nasce com todos os óvulos que vai utilizar durante toda a vida, e a cada mês a menstruação é o sinal de que um óvulo eclodiu e não foi fecundado", analisa. 

A versão masculina da pílula divide opiniões entre as mulheres, que se consideram mais disciplinadas do que os homens na hora de aplicar métodos contraceptivos. Mas admitem que seria muito bem-vinda a droga, pois tiraria delas mais essa responsabilidade de arcar com uma gravidez indesejada, que pode causar grandes transtornos, principalmente na adolescência, quando não se está preparado física e psicologicamente para gerar um bebê.

Todo esse esforço da ciência, em desenvolver uma pílula masculina, é reflexo das conquistas alcançadas pelas mulheres ao longo de suas lutas por igualdade, respeito e oportunidade. Como óvulos que eclodem quando não são fecundados, assim não vingariam as ideias que não favorecessem a convivência pacífica e harmoniosa entre dois seres que existem porque se completam. 

Por Maria Oliveira 

Publicado em Novembro de 2012

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