segunda-feira, 26 de abril de 2010
As pulseirinhas coloridas
Pera, uva ou maçã? Assim começa “Salada mista”, uma brincadeira popular antiga que não passa de um aperto de mão, abraço ou beijinho no amigo escolhido. Um jogo inocente, mas perigoso na versão contemporânea, depois que substituíram as frutinhas pelas pulseirinhas coloridas de silicone. Cheias de conotações sexuais, cada cor do acessório corresponde a uma ação permitida pelo jogador, que vai do abraço ao ato sexual.
Criado na Inglaterra com o nome de Snap Game (Jogo de Arrancar, em português), a brincadeira chegou ao Brasil no final de 2009, e foi rapidamente difundida por redes sociais como orkut. O jogo consiste em tentar arrebentar as pulseirinhas do outro para conseguir realizar a ação correspondente à cor da pulseira arrebentada. Desse modo, cada cor carrega um significado que permite ao participante realizar seu desejo.
Assim ficou determinado: a pulseira amarela ganha um abraço; roxo é um beijo; rosa tem que mostrar os seios; laranja pode dar uma dentadinha de amor; vermelha paga uma lapdance (dança erótica); verde leva chupões no pescoço; branca, a menina escolhe o que deseja fazer; azul sexo oral a ser praticado pela menina; rosa claro, o menino faz sexo oral; preta, fazer sexo com quem arrancar a pulseira; dourada dá direito a fazer tudo o que as outras cores determinam.
Mesmo sem saber o significado das cores das pulseiras, crianças e jovens entre 7 e 14 anos, na maioria, aderiram à moda, até que pais e educadores foram informados sobre a conotação erótica embutida nos adereços.
Na Inglaterra, a brincadeira foi proibida nas escolas e, no Brasil, a Prefeitura do Rio tomou a mesma atitude, através de um regimento escolar publicado em 15 de abril pela secretária de educação, Claudia Costin. Uma medida cautelosa, uma vez que o uso das pulseirinhas teria motivado um caso de estupro numa jovem de 13 anos, em Londrina, Paraná.
A medida proibitiva das pulseirinhas está dividindo opiniões entre diretores de colégios públicos e particulares. Para funcionários e professores da rede municipal, o regimento vai ajudar a resgatar o papel disciplinador da escola, responsabilizando a instituição pela formação das crianças e jovens.
Para os diretores de escolas particulares, os pais é que precisam saber mais sobre a vida dos filhos, devem impor limites e conversar sobre os perigos do uso de acessórios sexuais, sejam pulseirinhas, bonés ou camisetas com frases insinuantes.
Entre adolescentes, o acessório é usado em festinhas da turma. O jogo começa quando a menina está dançando e o garoto vai e arranca a pulseirinha com o consentimento dela. Então, ela faz aquilo que a cor determina. A maioria dos jovens entrevistados jura que a brincadeira nunca evolui para a pulseira preta.
Para os pais de meninos, o jogo não passa de uma iniciação sexual normal da idade, mas admitem que se preocupam com as filhas pelo perigo de manifestarem seus desejos. Mas, em geral, os responsáveis acham que é competência deles e não das autoridades, orientar o comportamento sexual dos filhos.
Se a brincadeira “salada mista” evoluiu para uma iniciação sexual ou não, o certo é que a moda das pulseirinhas trouxe à tona um tema que deveria ser disciplina obrigatória nas escolas: orientação sexual. O debate é bem-vindo no momento em que há um relaxamento da família, da escola, da Igreja, (com seus escândalos de pedofilia) e até da mídia, pela veiculação de cenas eróticas nas novelas em horários permitidos para crianças e jovens.
Enfim, o puxão de orelha atingiu a todos os segmentos da sociedade e serve como reflexão para orientarmos melhor nossos jovens sobre o tema, sem que precise proibi-los de brincar, de se apaixonar e de viver a adolescência intensamente.
Por Maria Oliveira
Publicado em Abril de 2010
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