quarta-feira, 26 de maio de 2010
Ser mãe é ...
As páginas dos principais jornais brasileiros deixaram estarrecidos milhares de leitores ao mostrarem, recentemente, uma menina de pouco mais de 2 anos ser submetida a maus-tratos por parte de uma senhora, aparentemente idônea, que deseja adotá-la. A referida senhora, uma procuradora aposentada, ainda estava no que o processo adotivo chama de “fase de adaptação” e todos ficaram boquiabertos com as denúncias apuradas.
Bem, isto sendo divulgado em um mês considerado das mães não ficou muito bonito de ser, e, repetido de modo nauseante, tal matéria nos suscitou um desejo imenso de escrever sobre a maternidade. Pois, em um país onde altos índices de natalidade convivem lado a lado com elevados percentuais de abandono de menores, como também se registram inúmeros casos de mulheres que pagam o que for preciso por um filho, seja seu ou de outra que não queria o seu próprio, é difícil ficar indiferente a tamanhas disparidades que este caso em particular acaba despertando em nossa consciência.
Eu sempre me senti mãe. Mãe pois sempre lidei com crianças, depois passei aos pré-adolescentes, aos adolescentes convictos, aos jovens, e posteriormente aos adultos, e todos eles, em minha visão romanceada do magistério, se assemelhavam a filhos que ávidos, precisam de mim por diversos motivos, não apenas educacionais. Mas curiosamente nunca tive vontade de gerar uma vida – embora tenha convivido com algumas amigas que sempre quiseram ser mães na plena concepção biológica da palavra, e sinta uma piedade calada da maioria, pois seus problemas físicos jamais permitiriam uma gestação -.
Entendo também quando a adoção se torna uma opção bonita para a plena realização da maternidade, embora tenha eu meu ponto de vista particular de que não se deve escolher uma criança apenas para que esta venha a ser quase que um bicho de estimação, que você leva para passear, inicia nas festinhas de amigos (incluindo aí você no seleto grupos de PAIS) ou para exibir em fotos para amigos. Eu só nunca entendi como, em um país onde TANTAS informações sobre contracepção, milhares e milhares de jovens, mulheres adultas e tais insistem em engravidar, dar à luz e/ou largar esta criança à uma sorte desconhecida com parentes ou mesmo ficar com sua cria e tratá-la como se fosse um estorvo.
Tenho uma filosofia de vida que até me explica a natureza desta situação, mas que me doi ver estes tipos de quadros da vida. Mas ainda quando, por trás da reportagem, oportunamente reaparece a mãe biológica da pobre menina que sofre maus tratos na mãe da velhaca procuradora e diz que vai lutar para ter a filha de volta pois se “arrependeu”. Mãe se arrepende de abandonar? Mãe se arrepende de ser mãe? Mãe se arrepende de fazer o filho? Bem, a reportagem me ensinou, se arrepende sim, porque é um ser humano igual a qualquer um.
Nunca gostei também do discurso que ouvi reiteradas vezes de amigas, mães de alunos, desconhecidas e outras mães do momento, que diziam: “filho não pode atrasar minha vida nem tirar minha diversão”. Até por que sei bem onde tudo vai parar quando a mulher que não quer ver o filho “atrasar sua vida” larga mão de cuidar daquela criança que, um dia crescerá, e sabe lá Deus como será, pois já está abandonado a própria sorte desde que nasceu, por escolha de quem o trouxe ao mundo.
Isto acaba multiplicando os frios de sentimento, os pobres de espírito, os cruéis de coração, os corruptos, os assassinos impiedosos, os bandidos temerários. Pois se tendo a mãe presente já é complicado se formar cidadãos dignos e seres humanos altivos, que dirá quando sua mãe decidiu que você era um estorvinho de vida e que a vida dela não irá mudar para ajudar a sua a evoluir.
Eu sempre acreditei que ser mãe era uma tarefa – das difíceis -, daquelas que na maioria das vezes não dá nem para arrumar uma mãozinha generosa que te alivie uns momentos. Mas depois da reportagem, depois de lembrar que esta caso não é o único e nem será o último, começo a acreditar mais tristemente do que o usual (esta melancolia minha nem remédios controlados deram jeito) que ser mãe é quase como ter perfil no Orkut. Todo quer ter, todo mundo quer fazer, mas depois pouca gente tem paciência para manter, para mudar, para atualizar, para cuidar. E quem faz tudo isto, acaba fazendo para exibir sua suposta felicidade e êxito PARA OS OUTROS. Ou seja, banalizou e ficou fútil. Uma pena!
Por Fernanda Barbosa
Publicado em Maio de 2010
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