segunda-feira, 29 de março de 2010
Ao cair à noite
Conheça Joanópolis, a cidade dos lobisomens
Desde criança aprendemos que em noite de lua cheia ele aparece, o lobisomem. Metade homem, metade lobo, essa personagem tirada dos contos de terror já serviu de inspiração para cinema, teatro e televisão. Quem não se lembra do lobo interpretado por Jack Nicholson, no filme de mesmo nome ou do professor Astromar, na novela Roque Santeiro?
Na produção de Dias Gomes, a criatura vivia no interior. Talvez por isso seja comum ouvirmos tantas histórias vindas de lugares distantes e pouco conhecidos. Mas, o que a maioria não sabe é que nos dias atuais existe uma cidade conhecida por esse morador tão ilustre. E mais, embora possa parecer estranho para quem está de fora, ele virou motivo de orgulho para seus conterrâneos.
Como diz o ditado, quem tem sorte nasce virado pra lua. Que o diga Joanópolis, já que a lua cheia lhe dá muita sorte. É justamente nessa época que surge essa criatura do mal. Temido no passado, o lobisomem joanopolense passou por uma metamorfose. Deixou de ser amaldiçoado e de mau, se tornou malandro. De temido, passou a ser amigo.
Quem pesquisa sobre Joanópolis na internet, se depara com inúmeros artigos sobre essa figura folclórica. Porém, ao contrário de medo, ela acabou atiçando mais interesse na cidade. Segundo seus moradores, a história começou a repercutir quando em 1983 a folclorista Maria do Rosário de Souza Tavares de Lima, membro da Escola do Folclore de São Paulo, resolveu escrever sobre o lobisomem da região.
O livro “Lobisomem - assombração e realidade” pegou os moradores de surpresa e chamou a atenção da mídia. Algumas centrais de jornalismo se interessaram pela história, que acabou virando discussão no dia-a-dia. O primeiro periódico a publicar uma matéria, nomeando a cidade capital do lobisomem, foi o Estado de São Paulo, em 1984. Depois a Rede Globo, com o programa Fantástico e também a Rede Record.
O lobisomem voltou à tona em 1998 graças a um comercial sobre folclore do grupo Mc Donald´s, no qual figuraram pessoas da cidade. Surgiu então a Lobomania, gerando confecções de camisetas e adesivos, patrocinados por diversos comerciantes, e a produção das “Noites do Lobisomem” no clube local.
Nascia ali a A.C.L. - Associação dos Criadores de Lobisomens. O Piracaia Jornal e a Radio Cultural FM (105,9) abriram um espaço especial para o lobisomem. A escola de informática InforSchool e outros, aderiram à capital do lobisomem e o artesão Marcos Bueno iniciou a confecção dos Lobisomens da Sorte.
Um passeio pela capital do lobisomem Joanópolis recebeu recentemente o título de Estância Turística, sendo a caçula das Estâncias do Estado de São Paulo. Possui uma economia voltada para a agropecuária e turismo, e sua população gira em torno de 12 mil habitantes.
Situada nos contrafortes da Mantiqueira, a cidade de Joanópolis possui uma das maiores reservas de mata nativa do Estado. Cercada pelas altas montanhas da Serra do Lopo, alterna-se entre vales e morros por onde correm riachos formando exuberantes cachoeiras. A mais famosa é a Cachoeira dos Pretos, com mais de 150 metros de queda.
A cidade também possui um clima típico de montanha, com invernos rigorosos que atingem temperaturas abaixo de zero. Devido sua localização, proporciona a prática de diferentes atividades durante todo o ano, tais como esportes náuticos, trilhas e passeios em meio à natureza. Entre os pontos turísticos, destaque para Gigante Adormecido, Represa Jaguari – Jacareí e Pedra do Medo.
Além da beleza natural, o lobisomem também é um grande chamativo para os turistas. É comum em noites de lua cheia, grupos de jovens e adolescentes se reunirem a procura do animal. Há quem aprove, e também aqueles que não não gostaram muito da experiência. Em depoimento à comunidade do Orkut, o jovem Thiago Paiva conta que ano retrasado passou o fim de semana num sitio da cidade. Na ocasião, seu amigo viu um bicho, da altura de um avestruz, correndo em direção a mata numa velocidade imensa, passando por barrancos e descidas. Curiosamente no dia seguinte, duas vacas apareceram mortas.
Também no site de relacionamentos, o paulista Adilson Cheta conta que costumava visitar parentes na cidade. Um dia, durante uma trilha, ele esqueceu a câmera no mato e voltou para buscar. Como era noite e estava escuro, passou por um susto danado. “História ou não, um dia deve ter acontecido. Por isso que eu acredito em tudo”, confessa. Independente das histórias de terror, a bandeira levantada pela população de Joanópolis é a do lobisomem como uma figura simpática, que incorpora diversos elementos culturais e traz muita informação sobre o passado da cidade.
O lado fera do animal passou a ser incorporado nos esportes radicais, na preservação da natureza e na divulgação das tradições de lá. Já a mensagem que a prefeitura da cidade preserva é a de que ele não passa de um elemento cultural, uma síntese dos costumes. A metamorfose do homem, que nunca é estático, aquele que é livre como o lobo e, que se um dia tiver sua liberdade ameaçada vira fera.
Por Tatiana Bruzzi
Publicado em Outubro de 2008
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