segunda-feira, 29 de março de 2010
Malu
Retrato de uma mulher
A socióloga Malu é uma mulher que acabou de sair de um casamento frustrado e optou pelo divórcio na época em que mulheres separadas sofriam muito preconceito. Na bagagem a filha Elisa, adolescente que viu sua vida sofrer um turbilhão provocado pelo antes e depois da separação dos pais.
Essa é a sinopse da série Malu Mulher, nosso perfil desse mês, sucesso exibido na TV Globo, entre os anos de 79 e 80, que trazia algo novo para a teledramaturgia ao abordar a vida de uma mulher recém separada. No roteiro, suas dificuldades, tristezas e, é claro, alegrias, enfrentando um mundo preconceituoso e machista na virada dos anos 80. Além de polêmicas e novas visões sobre a mulher, a família e a sociedade.
Mas por que ao invés de falar sobre uma pessoa o escolhido foi uma produção? Porque Malu não apenas revolucionou a televisão brasileira, como uma leva de mulheres que se identificaram com a sua história. E mais, buscaram na Malu da ficção a Malu na vida real. Aquela que tem medo de errar, amar, dizer não. Mais ainda de não errar, amar e dizer não.
Começar de novo
Criada por Armando Costa, Lenita Plonczynska, Renata Palottini e Euclides Marinho, a série foi exibida entre 24 de maio de 1979 e 22 de dezembro de 1980 e teve direção de Denis Carvalho, Daniel Filho e Paulo Afonso Grisolli.
Em seu episódio de estreia – Acabou-se o que era doce-, o tema abordado foi o processo de separação de Malu (Regina Duarte) e Pedro Henrique (Denis Carvalho). Brigas, a insegurança da filha Elisa (Narjara Turetta) e a evidente desarmonia no lar compuseram o episódio.
O primeiro ano do seriado mostra as dificuldades de Malu na tentativa de se virar sozinha, conseguir manter a casa e sustentar a filha. Já no segundo, Malu está mais amadurecida e consegue um trabalho fixo em um instituto de pesquisa. Ali se inicia uma nova fase, onde ela está pronta para recomeçar a vida afetiva.
Malu Mulher foi exportada para 55 países e ganhou vários prêmios internacionais. Entre eles, o Ondas 79, da Sociedade Espanhola de Radiodifusão e o prêmio Iris 80, da Associação Americana de Programadores de Televisão.
Curiosidades:
- Daniel Filho revelou em seu livro - "Antes que me esqueçam", que teve a ideia de fazer o seriado após assistir nos EUA o filme Uma mulher Descasada, de Paul Mazursky.
- O nome de Marília Pêra chegou a ser cogitado para o papel principal, mas desde o início Daniel Filho queria que o mesmo fosse de Regina Duarte.
- A socióloga Ruth Cardoso, ex-primeira dama do Brasil, participou de uma reunião de criação do seriado e chegou-se a conclusão de que Malu seria socióloga. Por indicação dela, a equipe de pesquisa foi até a Unicamp - Campinas, que na época era o Pólo em Sociologia no Brasil.
- Graças ao sucesso da série na TV, a Globo lançou em Dezembro de 79 o especial musical Mulher 80. Com direção de Daniel Filho e apresentação de Regina Duarte, o programa reuniu números musicais e depoimentos de cantoras brasileiras. O foco principal era a atuação feminina na Musica Popular Brasileira.
- A música "Começar de Novo" foi composta por Ivan Lins e Vítor Martins especialmente para o seriado. Maria Bethania chegou a ser convidada para interpretá-la, mas não aceitou. Coube a Simone, que na época ainda não tinha uma grande projeção, dar voz a canção. Com o sucesso da série no exterior, a música ganhou regravações de Barbara Streisand e Sarah Vaughan.
- O primeiro episódio foi reapresentado no Festival 20 anos, em junho de 85. No Festival 30 anos, alguns episódios foram reprisados durante uma semana em março de 1995.
Polêmicas:
- No episódio "De Repente, Tudo Novamente", exibido em 7 de junho de 79, Malu protagonizou o primeiro orgasmo da televisão brasileira. Na cena em que se relacionava com Mário (Paulo Figueiredo), a câmera focalizou a mão da personagem abrindo como se estivesse sofrendo espasmo. Na mesma história, Malu ingeriu uma pílula anticoncepcional.
- Na semana seguinte, no episódio "Ainda não é a hora", a personagem Jô (Lucélia Santos) faz um aborto em uma clínica clandestina. Foi o próprio Boni quem autorizou a equipe de produção a ousarem mais nos episódios.
- Segundo Daniel Filho o programa começou a sofrer muita censura. Uma dessas foi em "Até Sangrar", episódio escrito por Manoel Carlos, que debatia a questão da virgindade. Na ocasião, perguntava-se a Malu se doía e ela respondia: “Dói, mas só até sangrar”. Ainda de acordo com o diretor, devido às constantes mudanças no roteiro, a cada programa Malu acabava assumindo uma personalidade diferente.
Por Tatiana Bruzzi
Publicado em Março de 2009
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