segunda-feira, 29 de março de 2010
Nanda entrevista Maria
1- Além de jornalista, você também é professora. Quais as melhores e piores lembranças da época em que lecionava e em que elas se parecem e diferem em relação aos dias atuais?
R: O exercício do magistério é uma árdua e grata missão para quem se dedica e gosta desta profissão. Seria redundante explicar por que é árdua diante da triste realidade em que se encontra a educação no Brasil. Aqui, os governantes estão mais preocupados com resultados de provinhas, que estatisticamente possam justificar os altos investimentos feitos em programas sociais, do que com a educação em si como forma de mobilidade social do indivíduo. O bolsa família, por exemplo, é um programa que sustenta discursos, garante reeleições, mas não evita a evasão escolar. Prova disso são casos de jovens estudantes que trocam o caminho da escola por rumos que lhes sejam mais lucrativos. Somado ao desestímulo do aluno, muitas escolas funcionam sem o mínimo de segurança e conforto. Muitas não têm nem carteiras para alunos sentarem e materiais adequados, para que tenham o prazer em aprender. Estes são alguns pontos negativos que desestimulam o profissional comprometido com a educação. Entretanto, é muito gratificante quando o educador é reconhecido pelo seu trabalho e considerado como um amigo que abriu caminho para o futuro de muitos jovens.
Entre muitas boas lembranças que tenho do meu tempo de professora, guardo como trunfo uma história da superação de uma aluna. Aos 10 anos de idade, Lu foi matriculada na escola pública e estava muita atrasada em relação à turma. Mas o baixo rendimento dessa menina logo se justificou após a tia me contar seu drama. Aos dois anos de idade, Lu estava no colo da mãe quando o avião em que viajavam caiu na floresta Amazônica. A criança foi a única sobrevivente da tragédia. Desde então, além de traumas físicos, que a deixou sem andar por muito tempo, a sequela psicológica quase tirou sua vontade de continuar a viver. Sua história comoveu a todos. E assim, empenhada em ajudá-la, consegui fazer com que os alunos colaborassem com sua locomoção pelos compartimentos da escola e a ajudassem nas tarefas de aula. Lu alcançou a turma e sua alegria voltou. O tempo passou. Num domingo, a campanhia de minha casa tocou. Diante de mim, estava uma linda mocinha com um bolo de chocolate nas mãos, dizendo que era uma homenagem pelo dia das mães. Ás vezes é difícil separar o papel de professora do sentido maternal.
2- O que a levou ao jornalismo?
Sempre gostei muito de ler e escrever. Fui aprovada no vestibular para Letras da Estácio, mas como eram poucos os inscritos nessa cadeira, e a faculdade não conseguiu fechar uma turma, me sugeriram outros cursos que fossem da área de Ciências Humanas. Escolhi Jornalismo e acho que fiz a opção certa.
3- Para você como é participar do Espetaculosas?
Participar de Espetaculosas é muito gratificante porque neste espaço posso expor minhas ideias de forma independente, democrática e dividi-las com leitores e amigos muito especiais.
4- Qual a melhor experiência pela qual passou, seja na vida pessoal ou profissional?
Quando escrevi o livro "Histórias que tocam", em parceria com minha irmã Marielza Neves, pude voltar no tempo e no espaço, revivendo a minha infância e as histórias de minha família. Foi muitíssimo gratificante entrevistar amigos de infância do bairro onde me criei e compartilhar com eles as memórias de momentos e fatos que marcaram nossas vidas.
5- Você tem saudades de quê?
Na memória de quem já viveu muitas primaveras, vai ficar sempre o perfume das flores que respirou na juventude. Este aroma é único.
Publicado em Fevereiro de 2009
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