segunda-feira, 29 de março de 2010
Ser criança por um dia
Quando homenageamos as crianças no dia 12 de outubro, na verdade estamos cuidando para que a ingenuidade não fuja de nós. Sabemos que a infância não é uma etapa acabada, uma fase esquecida no baú de brinquedos que se perdeu no túnel do tempo, mas uma conquista. É um registro do ser humano no mundo e constitui a base de sua formação. Quem já leu algum livro, ou assistiu a uma das peças de Maria Clara Machado, deve ter sentido esta sensação de querer ser criança por algumas horas ou a vida inteira.
A escritora, dramaturga e atriz mineira Maria Clara Machado realizou um trabalho bastante voltado para o público infanto-juvenil, escrevendo mais de trinta peças e adaptações de clássicos infantis. Os textos de sua autoria são representados nos palcos até hoje.
A atriz foi uma das fundadoras do teatro O Tablado, e lutou para que o espaço atendesse aos anseios de um grupo de artistas amadores e intelectuais cariocas de ter um lugar próprio, onde poderiam ver representadas novas maneiras de se produzir teatro. Foi no Tablado que a peça Pluft, o Fantasminha, lançada em 1955, tornou-se um dos maiores sucessos de sua carreira.
A história do fantasminha, que tinha medo de gente e de crescer, corrobora com a idéia de que as pessoas não querem se tornar adultos para não perderem a ingenuidade e terem que enfrentar a vida fazendo suas próprias escolhas. Para Pluft, as pessoas eram como o malvado pirata Perna-de-Pau, que raptou a menina Maribel e a trancafiou no sótão de uma velha casa. Por outro lado, o fantasminha descobre que há humanos bons também, depois que fez amizade com Maribel.
Pluft ganhou uma adaptação para a TV na década de 70, em preto-e-branco, onde contracenavam Zilka Salaberry (no papel da mãe do Pluft) e Dirce Migliaccio, representando o fantasminha.
Em 1980, outro grande sucesso de Maria Clara Machado, o Cavalinho Azul, ganhou adaptação para o cinema pelas mãos do diretor Eduardo Escorel. No filme, o menino Vicente vive uma fantástica aventura pelo mundo à procura de um cavalo que foi vendido por seu pai. Para sua imaginação fértil de criança, ele estava atrás de um lindo cavalinho azul. A narrativa se constrói em torno do universo de encantamento que o circo oferece ao público infantil. Dentro dessa perspectiva, aparece um palhaço gente-boa, uma garota espectadora chamada Maria, que se torna amiga de Vicente, e músicos-vilões que o acompanham nessa empreitada. Pelo caminho cruzam com uma Fada, que também poderia ser uma feiticeira, representada pela própria Maria Clara Machado e um Cowboy.
Maria Clara Machado recebeu todos os prêmios brasileiros para teatro, incluindo o Prêmio Molière de autor. Entre outras premiações estão o Saci, Mambembe, Golfinho de Ouro e o prêmio da Academia Brasileira de Letras.
A escritora veio a falecer dia 30/04/2001, aos 80 anos, em sua casa localizada no bairro de Ipanema, zona sul do Rio. Uma semana antes de sua partida, ganhou o Prêmio Shell de Personalidade. Na ocasião, já não pôde ir recebê-lo. O mesmo foi entregue à ex-alunos do Tablado, que a homenagearam. Seu corpo foi velado na capela do Patronato da Gávea - na Lagoa, próxima ao Tablado, e enterrado no cemitério do Caju, na zona norte do Rio.
Obras da autora:
O rapto das Cebolinhas
A Bruxinha Que Era Boa
O Aprendiz de Feiticeiro
A Menina e o Vento
O Boi e o Burro No Caminho de Belém
Maroquinhas Fru-Fru
Pluft, o Fantasminha
O Cavalinho Azul
Os Cigarras e os Formigas
O Dragão Verde
Quem Matou o Leão
O Embarque de Noé
Um Tango Argentino
Tribobó City
Os Embrulhos
Camaleão na Lua
Maria Minhoca
O Diamante do Grão Mongol
As Interferências
A Volta de Camaleão Alface
Meloso e Maroquinhas
O chapeuzinho vermelho
Por Maria Oliveira
Publicado em Outubro de 2008
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