segunda-feira, 29 de março de 2010
Pierrô ama Colombina...
que ama Arlequim, que, por sua vez, também deseja Colombina
Basta o carnaval se aproximar para começarmos a pensar com que roupa vamos desfilar nos blocos de rua, ou pular em um clube tradicional da cidade. Afinal, quem nuca se vestiu de bailarina, cigana, odalisca, pirata e bate-bola, que atire a primeira fantasia, num folião.
A propósito, você sabe qual são as figuras carnavalescas mais conhecidas da folia? Isso depende muito da época. Se formos buscar pela memória recente, aqui no Brasil com certeza será o Clóvis (popularmente conhecido como bate-bola).
A imagem daquele palhaço, com macacões largos e bem coloridos, chupeta na boca e uma bexiga fedida (substituída há alguns anos por bolas coloridas) já fez a alegria de muitas crianças e se mantém no topo entre as “10 mais” queridas, pela garotada.
Agora se resgatarmos os antigos carnavais, como os requintados bailes de máscaras, originários de Veneza, com certeza vamos nos deparar com talvez o primeiro triângulo amoroso da história. Estou falando de Pierrô, Colombina e Arlequim, claro.
Essas três figuras carnavalescas são personagens de um estilo teatral conhecido como Commedia dell’Arte, nascido na Itália do século XVI. Os três papéis representam serviçais, envolvidos em um triângulo amoroso, que integram uma trama recheada de sátira social. O estilo surgiu como alternativa à chamada “Commedia Erudita”, de inspiração literária, que apresentava atores falando em latim, naquela época uma língua já inacessível à maioria das pessoas.
A história do trio enamorado sempre serviu de entretenimento popular, influenciada pelas brincadeiras de Carnaval. Apresentadas nas ruas e praças das cidades italianas, as histórias encenadas ironizavam a vida e os costumes dos poderosos da região. Para isso, entravam em cena muitos outros personagens, além dos três mais famosos.
Do lado dos patrões havia um comerciante extremamente avarento (Pantaleão), um intelectual pomposo (o Doutor) e um oficial covarde, mas metido a valentão (o Capitão). Outros personagens típicos eram o casal Isabella e Orácio (em geral, filhos de patrões) e outros serviçais. Apesar de obedecerem a um enredo já definido, as peças costumavam apresentar improvisações como ingrediente principal, exigindo talento cômico por parte dos atores, que precisavam responder rapidamente às novas piadas e situações criadas pelos colegas.
Um detalhe interessante é que sempre havia, no meio do espetáculo, um intervalo chamado lazzo. Ele continha mais comédia e apresentava acrobacias, ou sátiras políticas, sem qualquer relação com o enredo. Terminado o lazzo, a história continuava do ponto em que havia sido interrompida.
Com esse estilo único, a Commedia dell’Arte influenciou a arte dramática de toda a Europa e até hoje é utilizada como método para aprendizado e treinamento do ator.
Conheça o perfil das personagens que viviam entre tapas e beijos
Pierrô: Seu nome original era Pedrolino, mas foi batizado na França (no século XIX) como Pierrot, e assim ganhou o mundo. O mais pobre dos personagens serviçais vestia roupas feitas de sacos de farinha, tinha o rosto pintado de branco (com uma lágrima em apenas um lado) e não usava máscara. Vivia sofrendo e suspirando de amor pela Colombina. Por isso, era a vítima preferida das piadas em cena. Não foi à toa que sua atitude, vestimenta e maquiagem, influenciaram todos os palhaços de circo.
Arlequim: Também servo de Pantaleão, Arlequim era um espertalhão preguiçoso e insolente, que tentava convencer a todos da sua ingenuidade e estupidez. Depois de entrar em cena saltitando, deslocava-se pelo palco com passos de dança e um grande repertório de movimentos acrobáticos. Debochado, adorava pregar peças nos outros personagens e depois usava sua agilidade para escapar das confusões criadas. Outra marca registrada era a roupa de losangos.
Colombina: Criada de uma filha do patrão Pantaleão, era tão bela e refinada quanto sua ama. Colombina era também o pivô de um triângulo amoroso que ficaria famoso no mundo todo. De um lado, o apaixonado Pierrô. Do outro, o malandro Arlequim. Para despertar o amor desse último, a romântica serviçal cantava e dançava graciosamente durante o espetáculo.
Por Tatiana Bruzzi
Publicado em Fevereiro de 2009
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