quarta-feira, 31 de março de 2010

“Porque, meu bem...

 igual a você... não tem!”


Aí, eu suspirei: a chefa me dá a pauta “anos 80” e pede que eu descreva o perfil desta senhorita balzaquiana...sim, pois independente de você ter “estado” com esta moça entre os seus pueris 9 aninhos ou ter saído para a balada com ela quando já estava com seus 20, esta Década teimosinha e cheia de vida é como a nossa performática cantora Madonna: malha daqui, estica e alonga acolá, respira novos ares (mais poluídos, por sinal) e, mesmo achando uma gracinha a nova onda, ainda dá um baita caldo, não pensa em envelhecer tão cedo e nem tão pouco deixar de animar as festinhas mais descoladas da cidade com seus hits (da minha amiga Década, fique claro) carismáticos, engraçados e super populares.

Principio dizendo que a Década de 80 foi minha baita amiga de infância, fique bem claro. Brincávamos juntas quando o assunto era Balão Mágico e bonecas Suzi, adorávamos comer gamadinho e o tio-avô dos waffles, o Mirabel (o de limão era meu favorito, mas o da Década era o de morango), jogávamos batalha naval sempre que podíamos e víamos Sítio do Pica-Pau Amarelo com a sensação que nunca veríamos algo mais legal...

Para meu irmão e seus amigos, a Década era a parceria perfeita para grandes aventuras: festas americanas regadas a Cebolitos e Baconzitos (e olha que TODO MUNDO pedia para não levar biscoito!), uma azaração bem constrangida de canto de olho e salão, sem contar com o advento do walkman, que embalava a característica mais legal que ela tinha e que seria a mais duradora da Dé (olha a intimidade...): as músicas, xará. Quem é ser humano, hoje, se não se acabou de dançar com a Dé ao som de “Eu dei, eu dei”(sic) – mais conhecida como “ Domino Dancing”, do Pet Shop Boys (naquela época, eu, Dé e mais um monte de gente não era preconceituosa e nem sabia direito o que era “bicha”, termo feio e pejorativo para a maioria dos maiores amigos musicais da Dé, que ela foi descobrir depois.

Atire a primeira pedra quem JAMAIS desejou, junto comigo e com a Dé, seja em que idade fosse, entoar “Será?Só imaginação...Será?... que nada vai acontecer...”Duvido! Hoje tem um monte de gente (incluindo você, chefinha) que acha nosso falecido amigo Re-rê Russo e sua banda um saco, mas que eles foram os MAIORES incentivadores da Dé ter tido alguns primos-irmãos no cenário social e musical atual, sem contar o quanto eles ganharam de dinheiro para eles e para os amigos que se aproveitavam por fora da Dé.


E os hits que eram uma sensação só? A Dé A-MA-VA a Blitz, e Armação Ilimitada só era sucesso porque estava na companhia da Dé, esta menina ingênua que ansiava (ainda) por uma liberdade (que mais tarde se mostrou excessiva e fez com que ela acabasse engravidando e parindo uns filhos bem ruinzinhos) maior, porque hoje Juba e Lula não seriam páreo para a “Malhação”(...da vida alheia...)... E quem seria Michael, o Jackson number 5, se a Dé não tivesse promovido ele e a careteira pop-“almost-virgin” (alguém acreditou que ela era, no primeiro clip, com vestido cafona de moça de casa de conveniência e pinta sensual no canto da boca?) mais conhecida da atualidade por andar “pegando” uns rapazinhos?

Tá, a Dé tinha uns tiques nervosos que realmente fizeram bem em ficar para trás (ninguém aguentava mais o jornal O Dia pingando sangue e pornografia em suas páginas e matérias de capa – a nova geração acha mesmo que este jornal sempre foi assim, tão apresentável?- bem como não se suportava mais gravar fita cassete e apagar fita cassete para liberar mais espaço para o som maneiríssmo que rola, assim como era um POOOOOORRE ouvir “isto é Tremendo, isto é Tremendoooo” - sem falar no “Não se reprima, não se reprimaaaa”....ai!!! que irritavam toda santa hora nas rádios Am e Fm, salvo quando eram ou a Rádio Cidade “uuooooo”- hoje você conhece ela como Oi Fm - ou a Transamérica, ou a “maldita” Fluminense Fm).

Ela tinha uns defeitinhos, mas é ainda a melhor companheira de lembranças inocentes (podem ser pesadas também), dos sonhos idealistas que um dia a juventude politizada deste país desejou para o futuro (pena que eles desejaram também ganhar dinheirinho às custas destes sonhos e acabaram virando, em sua maioria, uns burocratas corruptos), ainda é a referência musical, teatral, televisiva e emocional de boa parte da galera dos inta, enta e enta II, sem contar que desperta curiosidade e bastante admiração de uns meninos mais novinhos, que tal e qual nosso Jesus brasileiro, ainda babam por esta senhora tão misteriosa, tão mágica, querendo saber como é que ela podia fazer feliz um pessoal que não tinha Orkut, nem MSN, nem computador próprio (nem nenhum PC), nem celular, nem Big Brother, um pessoal que não DAVA beijo de língua no primeiro encontro (o resto, então...uhn!) e que corava só de ouvir falar em gravidez. Como ser feliz sem tanta coisa “boa”?

Mas a Dé ficou para trás, como tudo que um dia é bom para uns, ótimo para outros, inesquecível para tantos, ou apenas mais uma para a maioria. Para mim, particularmente, ainda somos baitas amigas, e pretendo que continuemos assim porque ela, de certo modo, me conforta quando penso que com ela de companhia o mundo ainda era mais inocente, se desejava o bem coletivo sem a hipocrisia própria do ser humano, os desajustados continuavam sendo apenas pessoas necessitadas de um pouco mais de atenção, a Educação do país era aplicada por modestas pessoas que pretendiam sorrir com os resultados obtidos, e não lucrar com eles.

A Década de 80 foi a época em que vislumbramos nossos futuros como Humanidade, mas por alguma razão e por causa de algum misterioso motivo que acelerou a maioria dos desejos em menos de outra década, nossa Atualidade se tornou aquela tia-avó moribunda, incômoda e que nos constrange, que nos faz viver de recordações e saudosismos a cada suspiro dado.

Por Fernanda Barbosa
 
Publicado em Abril de 2009

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