segunda-feira, 22 de março de 2010

Uma questão de educação

A organização do mundo social e de seu domínio sempre esteve associada às diferenças sexuais, ainda que ativistas busquem a igualdade nesse sentido. Até que todos os preconceitos sejam derrubados do nosso planeta, a execução das funções determinadas por cada grupo se faz a partir dessas diferenças e de forma hierárquica. Pensando sob este ângulo, compete à mulher realizar trabalhos considerados mais leves, como cuidar das crianças e da casa, enquanto o exercício de atividades que exijam força ou autoridade fica por conta do homem.

Tal hegemonia masculina cria distorções que afetam o sujeito na hora de decidir pela carreira a que aspira. No Magistério, por exemplo, essa confusão simbólica da sexualidade se faz notar pela prevalência de mulheres na docência. Cabe à professora a sala de aula por associarem sua função à maternidade e ao cuidado das crianças. Para os homens, são reservados os cargos administrativos que requerem rigor e autoridade.

Segundo Michael Apple (1988) o magistério passou a ser ocupado majoritariamente por mulheres no final do século XIX, pois, originalmente, nos Estados Unidos e Inglaterra, a predominância nesse campo profissional era até então dos homens. No Brasil, essa mudança começou em 1880 com a fundação do Instituto de Educação, mas a procura pela profissão se intensificou mesmo por volta dos anos 40 e 50 do século seguinte.
 
Nesse período, o magistério acabou tornando-se um símbolo de ascensão social para muitas mulheres pelo fato delas terem “muito pouca escolha ocupacional; e, comparado à maioria das alternativas – lavanderia, costura, limpeza ou trabalho na fábrica – o magistério oferecia numerosos atrativos”.

Entretanto, a partir da Lei 5692/1971, houve mudanças importantes na administração da educação quando foi instituído o concurso público para diretores de escolas. Desde então, mulheres passaram a ocupar o cargo de diretoras e homens o de professores. De lá para cá, a carreira de professor perdeu o glamour dos Anos Dourados para viver a realidade do momento sócio-histórico, político e econômico do país.

A guerra dos sexos entre os profissionais da educação esfriou em relação ao cargo que cada um ocupa dentro da instituição. Não há mais concurso para diretores de escola e a escolha para o cargo é feita através de eleições diretas, desde que o candidato (a) tenha habilitação em administração escolar e mínimo de cinco anos de trabalho na mesma escola.

Mas, apesar de tantas mudanças pedagógicas e administrativas, parte da sociedade ainda enxerga o exercício do magistério como uma ocupação notadamente feminina, por tanto, maternal. Para se ter uma idéia, alguns pais protestam, junto à direção, se um “tio” e não uma “tia” for o professor de seus filhos pequenos. Este exemplo ilustra bem os novos rumos que tomou a história do magistério em relação à hegemonia masculina no domínio do conhecimento: se nos séculos anteriores competia ao homem ensinar, no atual é a mulher quem deve cuidar e direcionar a educação das crianças, segundo a preferência dos pais dos alunos das séries iniciais. Vitória feminina ou preconceito?

Por Maria Oliveira

Publicado em Março de 2008

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