sexta-feira, 26 de março de 2010
Maternidade desejada (?)
Diz o ditado popular que “ser mãe é padecer no Paraíso”, mas todas concordam que ter um filho é um dos momentos mais felizes da mulher. Entretanto, a gestação põe em risco o psiquismo da parturiente devido à intensidade da experiência vivida durante os nove meses que antecedem a chegada do bebê tão desejado. Esta carga de ansiedade pode abalar até mesmo as mulheres com boa organização psíquica quando se deparam com situações em que a estrutura social estremece. Por conta disso, transtornos afetivos afloram e a gestante fica exposta à Depressão Pós Parto (DPP), a síndrome que veio desmistificar o milagre da maternidade.
Segundo a Mestre em Psicologia pela USP, Vera Iaconelli, a síndrome da DPP acomete entre 10% e 20% das mulheres, podendo começar na primeira semana após o parto e perdurar até dois anos. Entre as vítimas da DPP estão mulheres que apresentam sintomas depressivos antes ou durante a gestação, com histórico de transtornos afetivos, as que sofrem de TPM, que passaram por problemas de infertilidade, que sofreram dificuldades na gestação, submetidas à cesariana, primigestas, vítimas de carência social, mães solteiras, mulheres que perderam pessoas importantes, que perderam um filho anterior, cujo bebê apresenta anomalias, que vivem em desarmonia conjugal, que se casaram em decorrência da gravidez.
Os sintomas mais freqüentes são: irritabilidade, mudanças bruscas de humor, indisposição, doenças psicossomáticas, tristeza profunda, desinteresse pelas atividades do dia-a-dia, sensação de incapacidade de cuidar do bebê e desinteresse por ele, chegando ao extremo de pensamento suicidas e homicidas em relação ao bebê.
O relato de F., uma mulher de 28 anos, ilustra a questão ao descrever a experiência que teve depois do nascimento do seu terceiro filho.
_ Eu estava ansiosa para que meu filho nascesse, mas ao mesmo tempo preocupada porque seria submetida à cesariana, seguido de laqueadura de trompas. Por ser jovem demais, a sensação de não poder mais engravidar no fundo me apavorava. A anestesia foi peridural, logo eu estava consciente do que acontecia ao meu redor. Tudo transcorria na mais perfeita harmonia quando houve um corre-corre no centro cirúrgico. Ao perceber que meu filho nascera anestesiado e, por isso, custava a chorar, entrei em pânico. Fui sedada e só recobrei os sentidos no quarto. Quando o bebê, lindo e saudável vinha com a enfermeira para amamentá-lo, um cansaço tomava conta de mim e eu dava uma desculpa para afastá-lo. Por sorte, meu obstetra percebeu o problema e me tranqüilizou dizendo que o “susto já havia passado e ali estava o meu filhinho saudável e pronto para receber o carinho da mamãe”. Foram palavras de força que eu precisava ouvir para abraçar meu filho, sentir que ele estava vivo e seria meu para sempre.
Para a médica pediatra Vivian Gonçalves de Oliveira, o diagnóstico precoce é fundamental e para isso é necessário um acompanhamento em todo ciclo gravídico-puerperal, sendo a melhor forma de evitar, atenuar ou reduzir a duração da DPP, e acrescenta:
_ As pessoas tendem a confundir a DPP com a Tristeza Materna (baby blues, post-partum). Entretanto, o quadro da gravidade da DPP é bem mais complexo porque afeta a capacidade da mãe de cuidar do filho, pondo em perigo seu próprio bem-estar e o do bebê. Para a mulher em surto, a criança não existe como filho e este vazio pode ser preenchido por neuroses da mãe. Preservar a saúde e a segurança de ambos é fundamental - sentencia a doutora Vivian, que também é especialista em Medicina Familiar. Ela indica como medida preventiva os grupos de gestante que têm caráter psicoprofilático e, portanto, ajudam no diagnóstico e tratamento precoces da DPP.
Fora os problemas relacionados à Depressão Pós Parto, a maternidade não deixa de ser meta perseguida por quase todas as mulheres do mundo. Para muitas, ser mãe representa a realização máxima de suas vidas, e a não conquista deste objetivo pode trazer conseqüências sérias no plano pessoal e familiar. Não por acaso, o mercado de produtos voltados para recém-nascidos está cada vez mais atualizado às necessidades da mamãe e do filhinho. Para comprovar isto, a Exposição Gestante e Bebê, que permanece até o dia 18 de maio na casa de eventos Ribalta da Barra, com entrada grátis, está movimentando centenas de futuras mamães que vão à procura do melhor preço e mais bonito produto para seu bebê. Com DPP ou não, as mulheres ainda acham que é compensatório ser mãe e “padecer no Paraíso”.
Por Maria Oliveira
Publicado em Maio de 2008
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