sábado, 20 de março de 2010

Bethânia das Águas

Bethânia volta ao Rio para gravação do seu novo DVD Dentro do Mar Tem Rio


Com mais de 40 anos de carreira e uma discografia superior a 30 álbuns, Maria Bethânia se tornou a Rainha das Águas após o lançamento simultâneo dos CDs Mar de Sophia e Pirata. Pirata é fruto das memórias da cantora, que sempre teve fascínio por rios e cachoeiras. O Mar de Sophia é dedicado ao mar e a poesia de Sophia de Mello Breyner. Ambos chegam às lojas, respectivamente, pelos selos Quitanda e Biscoito Fino.

A turnê, intitulada Dentro do Mar Tem Rio, está de volta ao Rio, no Canecão, para se eternizar DVD. Com sua voz e presença de palco inconfundíveis, a filha de Dona Canô emocionou veteranos e marinheiros de primeira viagem.

“Esse foi o primeiro show de Bethânia que vi. Assisti inteiro, como se fosse uma cerimônia energética. Fiquei muito emocionado”, confessou o cantor e compositor Jorge Vercilo.

A alegria de Vercilo tinha outro forte motivo. No CD Pirata, Bethânia gravou a música Eu Que Não Sei Quase Nada do Mar, parceria dele com Ana Carolina. Os dois assistiam ao show como se estivessem mesmo numa cerimônia, idolatrando uma deusa da música brasileira.

“Foi o melhor show a que já assisti, desde Âmbar e Maricotinha”, empolgou-se Ana Carolina. “É uma emoção muito forte ver Maria Bethânia interpretando uma música nossa, de forma tão grandiosa”.

Jorge Vercilo e Ana Carolina não exageraram. Dentro do Mar Tem Rio é realmente um espetáculo singular. Navegando ora nas águas salgadas de Mar de Sophia, ora nas águas doces de Pirata, dedicado aos rios, Bethânia é majestosa. Está no auge, em cima do palco ou dentro do estúdio.




Mar de Sophia e Pirata são discos poéticos porém distintos. Bethânia faz um passeio de águas doces pela obra de Guimarães Rosa em Pirata e recita a portuguesa Sophia de Mello Breyner em Mar de Sophia. Por entre os versos de um Canto de Oxum (Vinicius de Moraes/Toquinho) e as inéditas Yemanjá Rainha do Mar (Pedro Amorim/Paulo César Pinheiro), Beira-Mar (Roberto Mendes/Capinam), Grão de Mar (Márcio Arantes/Chico César) e Sereia de Água Doce (Vanessa da Mata).

Pirata parece ser fruto das memórias da cantora. Neste disco, Bethânia é contemplativa, mesclando cultura brasileira, sertão nordestino, poetas populares e rios, como o Velho Chico.

Destaque para a sensual “Eu que não sei quase nada do Mar” (Ana Carolina / Jorge Vercilo) e “Memória das Águas” (Roberto Mendes/Jorge Portugal).

Em Mar de Sophia duas coisas chamam atenção. Primeiro quando “Debaixo D´água”, de Arnaldo Antunes, seguida de “Agora” (Titãs / Arnaldo Antunes), une novamente os Titãs do passado; e a sofrida “Lágrima” (Roque Ferreira), que de tão densa, chega a inquietar.

Dos grandes nomes da MPB, Bethânia emprestou sua voz à ”Cantiga da Noiva”, “Canto de Nana” (ambas de Dorival Caymmi), “Canto de Oxum” (Vinicius de Moraes), “Praias Desertas” (Tom Jobim) e “O Tempo e o Rio” (Edu Lobo).

O irmão Caetano é lembrado em “Onde Eu Nasci Passa um Rio”, “Os Argonautas” (ambas em Mar de Sophia) e “Marinheiro Só” (Pirata).

Fechando com chave de ouro, a artista encerra o espetáculo cantando Das Maravilhas do Mar, Fez-se o Esplendor de uma Noite, samba da Portela, carregado de energia e boas vibrações.

“Bethânia tem uma espiritualidade muito grande”, resumiu a sambista Mart’nália, que ano passado lançou o CD Menino do Rio pelo selo Quitanda, com direção musical de Maria Bethânia.

O espetáculo fica em cartaz no Canecão, Rio de Janeiro, nos dias 17, 18 e 19 de agosto. É mesmo imperdível.

Por Dani Jales 
 
Publicado em Setembro de 2007 

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