sexta-feira, 19 de março de 2010
Pelos caminhos do Kata
Quando se pensa em Jogos Pan-americanos, lembramos imediatamente das modalidades esportivas tradicionalmente mais conhecidas do evento como atletismo, ginástica olímpica, vôlei e basquete. Mas existem outras, como o karatê, que entrou na lista de esporte competitivo só em 1995, e já conquistou adeptos de todas as idades, principalmente na modalidade kata. Este estilo de karatê, fundado na década de 1980, por Sérgio Francisco Sena, perito em artes marciais, significa "caminho dos movimentos para a auto defesa". E foi por esse caminho que a atleta Dayane Marques se orgulha tanto das medalhas que conquistou.
De origem humilde, a campeã mora com a mãe próximo ao Bandeirante Tênis Clube, em Jacarepaguá, onde tudo começou. Lá ela descobriu que o Karatê representava na sua vida muito mais que um entusiasmo de menina. Percebeu a responsabilidade que tinha pela frente e hoje, aos 20 anos de idade, sabe que precisa treinar três vezes por semana, durante 3 horas seguidas, intensificando para todos os dias, até o dia da competição. Decidida, trancou a faculdade de enfermagem por não conseguir conciliar os treinos com os estudos, mas faz cursos de inglês e informática para se atualizar.
Atualmente, Dayane é bicampeã brasileira, campeã pan-americana, conquistada no Caribe em 2005, campeã sul-americana na Argentina, em 2006 e bicampeã sul-americana no Peru, em julho deste ano. Guerreira, Dayane define sua carreira como um muro “que tem que pular sem usar escada e por isso precisa de força todos os dias para ultrapassá-lo”. Tal força ela diz receber do técnico das seleções carioca e brasileira, Genival Ferreira e da mãe, Maria de Lourdes, que se desdobra no trabalho para custear as despesas da filha, já que a mesma não tem nenhuma ajuda do governo, nem da federação, muito menos de patrocinador. Da brincadeira de criança, que aos sete anos via seu irmão lutar e gostou, até subir ao pódio, Dayane precisou pular muitos “muros” para conseguir as medalhas que exibe hoje no peito.
Mesmo com sacrifício, Dayane tem uma vida equilibrada que diz ter adquirido por conta do kata
_ Quem está de fora não dá importância ao kata porque não conhece os benefícios dessa modalidade. Fazer o kata exige mais concentração e equilíbrio entre você e o que está realizando. Capto o que os outros falam, ouço tudo porque os sentidos ficam muito mais apurados. Aprende-se a ter mais responsabilidade e atenção em tudo que se faz. Vejo tudo a minha volta e não perco a concentração. Como ser humano a gente aprende a ter caráter. Karatê é a perfeição do caráter, através de árduo treinamento e rigorosa disciplina da mente e do corpo. Aprende-se nunca atacar e sempre se defender e, se for possível, se defender sem machucar. Por isso, quem sabe kumite (combate um -a- um), não sabe o kata (forma) mas quem faz kata sabe lutar- informa Dayane Marques, que em agosto viaja outra vez rumo ao bicampeonato Pan-americano do Equador. Sorte para o Brasil!
Por Maria Oliveira
Publicado em julho de 2007
0 comentários:
Postar um comentário