sábado, 20 de março de 2010

Da Bossa Nova ao Tropicalismo

Dois movimentos musicais de características opostas marcaram o final da década de 1950 ao final da década de 1960: a Bossa Nova e o Tropicalismo. O primeiro expresso por uma estética musical sofisticada e intimista, delicada e concisa, que refletia o comportamento e as aspirações dos jovens da Zona Sul carioca; o segundo trazia uma profusão de idéias mescladas à parafernália sonora e literária, que provocaram mudanças no plano cultural, político e social. Enquanto a Bossa Nova navegava tranqüilamente de “Barquinho” (Menescal e Bôscoli) nas ondas das rádios, como música multinacional, a Tropicália explodia os campos minados da Ditadura, com “Alegria, alegria” (Caetano Veloso e Gilberto Gil).

Em novembro de 1962, exatos quatro anos após o lançamento oficial da bossa nova no Rio de Janeiro, realizava-se em Nova York o grande show no Carnegie Hall. O esforço promocional do então chefe da Divisão Cultural do Itamaraty, Mário Dias Costa, não foi em vão. Naquela memorável noite, a voz sussurrada, e a batida diferente do violão do baiano João Gilberto abririam o caminho para a música brasileira ser reconhecida no mundo inteiro.

Não por acaso, “Desafinado”, música de Tom Jobim e Newton Mendonça, foi gravada em 100 versões diferentes e em 20 países distantes. Fáceis de digeridas, e desprovidas de erudição, as letras valorizam o coloquial urbano em versos como “Ela é carioca... Olha o jeitinho dela andar”, ou em “Samba de uma nota só”, que explica a simplicidade da construção estética musical bossa-novista.

Como em toda mudança pensado por jovens universitários, o engajamento político-social não tardou a chegar. E, no ontológico show Opinião, Nara Leão dá o tom que faltava ao movimento para que outros nomes como Marcos Valle e Chico Buarque aderissem à nova tendência. Assim, a Bossa Nova preparava o terreno para os tropicalistas semearem suas idéias contraditórias e atitudes extravagantes.




Oficialmente a Tropicália surgiu no 3º Festival de Música Popular da TV Record, de 1967. O nome do movimento foi inspirado na “Nova Objetividade”, exposição do arquiteto e artista plástico Hélio Oiticica, que aconteceu dois anos antes no Museu de Arte Moderna, do Rio. A princípio os críticos presentes ao festival ficaram confusos diante da irreverência contagiante de Caetano, Gil e “Os Mutantes”, que em meio a atitudes debochados e extravagantes mostraram ao público “uma reforma da cultura musical”.



Os dois movimentos foram igualmente importantes. Tanto a Bossa Nova quanto o Tropicalismo serviram de inspiração para a geração de compositores da atual MPB. Não por acaso, a Tropicália foi homenageada neste ano com uma exposição no MAM do Rio pelos 40 anos de existência. A Bossa Nova, por sua vez, virou patrimônio cultural um ano antes de completar meio século de idade.

Por Maria Oliveira
 
Publicado em Novembro de 2007

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