sexta-feira, 19 de março de 2010

DE HATSHEPSUT Á SEGOLÈNE

AS MULHERES QUE MODIFICARAM A HISTÓRIA


Tudo começou com Eva, mas digamos que a verdadeira revolução feminina aconteceu pelo menos dois séculos antes de Woodstock e Janis Joplin. No dia 8 de março de 1857, as operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade norte americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve, ocupando a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho.


Maria Antonieta

Não, você não está lendo a resenha de “Terra Fria”, filme consagrador de 2003 com Charlize Theron no elenco e que trata aproximadamente disto, as diferenças entre homens e mulheres no ambiente de uma fábrica. A de 1857, real, teve como desfecho a manifestação sendo violentamente reprimida e tendo as mulheres trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada.

Coco Chanel

Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano, e daí nasceu o famoso ”Dia da mulher” – não uma data criada por nobres motivos de celebração feminina, mas como modo de uma retratação pela vergonhosa covardia. Mesmo sendo ainda um tabu mulheres no volante, na política, nas fábricas, mulheres encarando adversidades iguais ou até melhores que os homens, o jeitinho feminino supera milênios e estabelece novos conceitos em pleno século XXI.

E porque não começarmos nossa sessão flashback feminina com ela, que recentemente arqueólogos descobriram não ser exatamente o espelho da formosura perpetuado por Liz Taylor nos áureos anos 50? Cleópatra é ainda referência quando a expressão “mulheres no poder” surge na mídia atual - ambiciosa, astuta, e desejada por dois dos maiores comandantes que o Império Romano teve, ela tentou até o fim do domínio de seu povo manter-se acima do subjugo dos romanos, porém não conseguiu seu intento: acabou enterrada com Marco Antônio e dizem que continuaram unidos após a morte. Mas seu recado para as mocinhas insatisfeitas com seus corpos, cabelos e rostos é um só: para ser marcante, basta personalidade. É só olhar bem a carinha de Cléo, que não é nenhuma “Pires”, mas desbancou musas do Egito antigo. E antes dela Hatshepsut foi a primeira mulher faraó.

Já que estamos falando de poder... Ela personificou o poder como ninguém. Nascida em 1533, Elizabeth I foi rejeitada pelo pai Henrique VIII, rei da Inglaterra. Ele não se conformou com mais uma menina na família real, já que desejava um herdeiro macho. Menosprezou sua herdeira e por tabela suas descendentes diretas. Elizabeth I morreu com o título de “rainha virgem” para provar ao mundo dominador masculino que as mulheres não teriam que ceder sempre às convenções.

Joana d' Arc nasceu pobre e era analfabeta, mas isto não foi exatamente empecilho para esta brava mulher se tornar guerreira valorosa em um confronto histórico entre ingleses e franceses, muito antes de estadunidenses e iraquianos mandarem suas mulheres ao combate. Morreu precocemente num mundo onde já se falava em crueldade, traição e intolerância. E com apenas 19 anos de idade foi queimada viva em praça pública. Martirizada, acabou sendo canonizada no final do século 20 e virou a santa de todos os franceses. Uma mesma França que, por volta de dois séculos depois, quase elegeu uma mulher para a presidência (Ségolène Royal). Se bem que, foi feminina na escolha do ministério de seu novo presidente, composto por nada menos que sete mulheres... Sarkozy parece tentar se redimir com santa Joana.


Isto sem falar na brava e destemida Ana... Nascida em 1821, Ana Maria de Jesus Ribeiro viveu na primeira metade do século 19 e se tornou logo depois personagem emblemática de um conflito movido por interesses e paixões, para ser celebrizada por Giuseppe Garibaldi como Anita, definitivamente, para deixar sua vida sem graça e se tornar uma das mais importantes personagens na história do Brasil.



Aliás, no Brasil, temos personagens femininas de relevância histórica em várias áreas: a compositora e pianista Chiquinha Gonzaga foi a primeira mulher no Brasil a estar à frente de uma orquestra. A grande tenista brasileira, a paulista Maria Esther Andion Bueno, primeira mulher a vencer os quatros torneios do Grand Slam (Australian Open, Wimbledon, Roland Garros e Us Open). Ela conquistou, no total, 589 títulos em sua carreira. Isto sem contar com a nossa querida, igualmente premiada e recém-falecida Maria Lenk, exemplo de aplicação e determinação na natação.



Maria Lenk

É, nós brasileiros não estamos nada mal em celebridades. Mas não se esqueçam de nossa vizinha Argentina, que elegeu uma dançarina carismática de cabaré para a 1ª presidência de um país latino-americano. Izabel Perón tornou-se a primeira mulher presidente, em 1974.

Eva Peron 

E nas artes plásticas e dramaturgia? Como não suspirar e desejar ardentemente que um dos inúmeros modelitos feitos sob medida pela Maison Chanel para Audrey “Bonequinha de luxo” Hepburn coubesse em nossos sonhos e um amor de sessão da tarde nos fizesse levitar? Clássica, sóbria, distinta, excelente atriz, esta foi Audrey, imortalizada pelos figurinos de Coco Chanel.

Não tão sóbria, nem tão excepcional atriz, mas sedutora, convincente e – vai negar que você um dia quis ser loura só por que ouviu falar “que os homens preferem elas” (mas disto ela e Jaqueline Kennedy, futura Madame Onassis, já sabiam) – arrebatadoramente melancólica e estonteante Marylin Monroe, mais eternizada no imaginário popular que o mais impressionante diamante?



Dizem as más línguas que até hoje nosso ícone loura pop e igualmente polêmico conhecido por Maria Louise Ciccone, ou só Madonna, sente inveja da paixão que Marylin despertava em multidões apenas com o seu olhar de pura lascívia. O poder da sedução em evidência movendo milhões nas artes e na cultura!!!




Sem tanto charme, nem tão glamourosa, mas extraordinária em suas palavras era Virgínia Woolf, recentemente homenageada por Nicole Kidman em As horas, que “enfeiou” para emprestar doçura e sensibilidade a um ícone da literatura inglesa, tão admirada por obras grandiosas como Orlando e As ondas.



Sim meninas, somos muitas – somos mais. Somos especiais em diversos sentidos, aspectos. Nos destacamos onde quer que empenhemos nossa garra e personalidade. E todas estas mulheres lendárias, aqui citadas, mandam um recado quase mediúnico às moças do recém século XXI: para sermos admiradas, adoradas, seguidas, respeitadas e celebradas não precisamos nos despir, nos exibir, além do que deveria o pudor permitir, nem tampouco devemos menosprezar nossos talentos naturais em detrimento de casamentos suntuosos.

Há vida após o primeiro beijo, o primeiro fora, o primeiro filho – há vida para mulheres corajosas, inteligentes, não necessariamente belas, mas indispensavelmente talentosas e criativas. Sedutoras sem precisar mais do que um simples sorriso de genuína alegria. Moças, se o mundo foi povoado e desbravado, devem muito as civilizações, à nossas ancestrais, que lutaram empenhadamente para que o mundo se tornasse mais justo e muito, mas muito mais aromatizado com este “Perfume de mulher” que só nós sabemos como é...

Por Fernanda Barbosa
Publicado em junho de 2007

0 comentários:

 

©2009Espetaculosas | by TNB