sábado, 20 de março de 2010

IRA, GULA, INVEJA,

ORGULHO, AVAREZA, PREGUIÇA, LUXÚRIA. NADA DISTO MAIS ESTÁ NA MODA SOZINHO


“...Eu sou o preço

Cobrado e bem pago

Eu sou

Um pecado capital...”

(Isabela Taviani)

Já sei, você resolveu clicar neste link e ler sobre os pecados, capitais e mortais, que rodeiam a existência humana há pelo menos, hmmm, deixe-me ver...a criação do homem? Bem, então, tem tempo o suficiente para saber que os sete pecados conhecidíssimos da mídia, da moda, dos poetas e filósofos, dos roteiristas de Hollywood e de toda a humanidade, quer católica, quer atéia, quer à-toa, quer qualquer crença e credo, já não são só sete! Já não andam sozinhos no vale da morte e das sombras, que muito se assemelha com qualquer lugar do planeta onde não haja civilidade, onde existam covardias, onde a imoralidade reine solta... Ué, tô escrevendo sobre o que e onde, mesmo? Ahn, sobre os pecados capitais adicionais modernos, que chamo não mais de capitais, mas de atuais, antenados e mordazes.

Comecemos pela ira: o que seria a ira senão fosse a covardia? Nada! Não vale apenas mais ter acessos de ódio, fúria, remoer rancores, partir para o ataque e para a briga com os punhos cerrados... Tem que, como diria uma expressão retirada de um dos primos de outro pecado original, que seria a preguiça (preguiça de procurar termos e vocábulos e resumir tudo o que sente ou fez em umas poucas palavras mal-traçadas e mal-entendidas), tem que ESCULACHAR (que serve para tudo!... para dizer que você humilha, que você subordina, que você despreza, que você maltrata, que você exagera...ahn, preguiça a partir dos 13 anos de procurar sinônimos!), tem que ter ira mas tem que destruir covardemente o alvo da ira, não interessa se vai dar para identificar no Félix Pacheco ou se vai sobrar escombro sobre escombro. Há de se agir com covardia, sem jamais perder a moral.

Gula? Que gula? Em um mundo onde você ainda morre de fome em alguns continentes e anoréxicas cobrem o salário extra dos repórteres que fuçam plantões médicos você não tem só este pecadilho a ser cometido... Você tem a vaidade! Pois, mesmo que você se empanturre solitária em algum lugar que ninguém nunca vê e que você aumente algo mais que suas bochechas, você tem clínicas de plantão doidas para dar fim a este pecado tão mesquinho e cretino que não nos deixa em paz, enquanto 2/3 da Humanidade morre de fome... Isto sem contar com a boa e velha bulimia que para ajudar a vaidade, prima da gula (coma, coma, coma, é só você ter algum dinheirinho que tem cirurgia assim, ó! e academias que vão te ajudar a controlar esta gula horrorosa que não te deixa com a consciência limpa...), faz uma baita força para não te deixar na mão e ser alvo de chacotas.

A inveja, já dizia alguém, é uma “fezes”... mas nem sempre. Temos agora a mentira social! Ela vem em frases do tipo: “ahn, eu tenho uma inveja boa de você, uma inveja positiva...” sei não, mas acredito que algum profeta bíblico ia dizer que é o mesmo sentimento, pois se você inveja é porque “admira” e de certo modo cobiça algo que outra criatura ou fez, ou tem, ou é. Não acham?

Agora, o orgulho é um dos pecados capitais que mais confunde o mundo moderno. Como dizer que não o tem, se você faz algo bom ou é alguém menos “ruinzinho” que seu próximo? Palavra ambígua, o orgulho tem um primo pobre que em tempos atuais era para ser presença quase obrigatória em diversas conversas ao redor do mundo, ouso dizer: a humildade. Não basta ter orgulho, na definição “do bom cristão”, mas tem que se ter humildade: não basta ter orgulho, na definição condenada pelo bom cristão, há de ser ter humildade para saber quando e como erra e a hora de parar e desculpar-se. Um toque altruísta em nossa matéria. Ponto.

Deixemos o altruísmo de lado e voltemos às futilidades... Chegamos até a avareza, sinônimo, nos tempos modernos, de perdulário. Calma, leitor que já se enche de cólera achando que desviei os olhos do Aurélio. Explico-me: atualmente, o sujeito que realmente tem poder financeiro não emprega ninguém, continua avarento, não faz caridade sem pensar no abatimento do IR, se bobear inclui até aquela vizinha às vascas da morte para ter um desconto maior, mas pega alguns mil dólares e gasta sem dó nem piedade em algum ato auto-promocional, associado genuinamente à vaidade, outro pecado moderno... Ou você vai dizer que nunca viu um destes? Pede ao vizinho para levar o filho à escola, não paga o transporte escolar “para economizar”, mas é capaz de pagar uma boa soma para uma festança no níver daquele amigo querido no Tizziano ou no Gero, mesmo que depois seu contador, pasmo, lhe atente para os números gastos, sabendo que você é aquele que nega solenemente um aumento ao homem que maquia, ano após ano, suas contas e suas balanças comerciais mais que favoráveis. É amigo, até os pecados capitais andam conflitando com os parentes modernos.

Ahhhhnn... Não é com prazer que chegamos ao meu sobrenome... “Confesso, em um misto de vergonha e sem-gracice, que sou uma preguiçosa assumida, filha da máquina de lavar com a comida congelada, uma degenerada mistura de controle remoto e frases do tipo” você que tá aí em pé...” Quem não for preguiçoso desde a década de 80 que atire a primeira pedra – ahn não, é muita força a empregar. Atirem então a primeira almofada – uma época que nos ensinou que comida pode ser congelada, televisão se desliga no controle, freezer é a maravilha tecnológica mais eficaz dentro de sua cozinha depois do microondas. Que nos ensinou dancinhas em um só sentido indo-e-indo, e as mazelas maiores que vieram com tudo isto, como colesterol alto, diabetes, obesidade, cansaço crônico ...TUDO PORQUE ESTA GENTE NÃO GOSTA DE ATIVIDADE! E nem venha me dizer que você “ malha horroooores” já que o faz mais para ser ajeitadinho, nestas curvas perigosas depois de suas costelas e nestas dobrinhas lindas exibidas enquanto você senta no sofá, do que para ser saudável! A PREGUIÇA É ÍMPAR! Quem nunca usou o bordão “eu queria era ter dinheiro e tira isto tudo daqui neste quadril que não me pertence”?

Nos tempos modernos, mesmo que o número de academias tenha dobrado e esta gente toda que supostamente as invade busque qualidade de vida, desconfie amigo leitor!!! Existe um número igual ou maior de clínicas estéticas onde a pretensa qualidade de vida também se alcança a módicos pacotes –perder-de- vista... E se isto não é preguiça, diga-me você o que é? Se pelo preço de quase R$ 5000 (sendo modesta) você é convencida a não fazer 5000 abdominais e a barriga tanquinho lhe é prometida... Ahn, inveja de quem tem preguiça mais tem dinheirinho...

Luxúria não tem nada a ver com luxo, tá amiga? Nos dias modernos ela é a tradução literal do status de relacionamento no perfil orkutiano onde o sujeito coloca “relacionamento aberto” (bem, é muita verdade que quando se lê sobre o perfil da pessoa e aí se descobre que nem aberto, nem fechado. Não tem relacionamento é nenhum...), ou, como a prima moderna poderia ser reconhecida, lascívia... Muito chique para você? Então, lá vai: libertinagem. Virou lugar comum o “tô amando sicrana, tô amando beltrana”, o tal “ficar” que vulgarizou e ficou feio, dos 15 aos 60... E nem adianta me dizer que estou sendo puritana. Estou sendo é sincera. Luxúria é pouco para a libertinagem generalizada que tem como frase carro-chefe o “quero mesmo é ser feliz”, e nisto nascem filhos de discórdias, de descaso, de muito amor-próprio e pouco empenho ao próximo filho. É uma pena, mas este último pecado capital anda gestando por nove longos meses todos os demais já que uma criança, fruto de “muito amor”, que dura em uma união no máximo sete meses e quando dura mais, não acaba com os pais juntos. Ou aquela criança, fruto do descaso contraceptivo e da futilidade carnal, que acaba crescendo com alguma ira, recalque ou distúrbio alimentar (traduzido por gula ou apatia), costuma possuir orgulho em demasia para disfarçar seus traumas, acaba por ser tornar menos generoso e mais avaro. Preguiçoso, o mundo já favorece de se tornar esta pessoa e vai continuar um círculo vicioso na luxúria que deu origem à sua vida... Não vale generalizar, eu sei. Mas vamos olhar ao redor com atenção. O que deveria ser exceção virou norma da casa.

E mesmo este artigo, que deveria ser engraçadinho, se entristece ao terminar e constatar que em um universo de mil pessoas ao menos 700 delas se encaixam no perfil feito e nem se lamentam por se identificarem com eles. Enfim, como diz a Isabela Taviani, “...eu sou um pecado capital”. Todos nós, cara mia, e ambulantes.

Por Fernanda Barbosa
 
Publicado em Novembro de 2007

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